15 • outubro • 2018

Consumo consciente: O que é e por onde começar?


Você sabe o que é um produto sustentável? A pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações, divulgada em junho deste ano pelo Instituto Akatu, apontou que 61% dos entrevistados não sabiam como responder a essa questão. Entender com um produto é feito – levando em questão todos os aspectos que envolvem sua produção – é fundamental para compreender o caminho do consumo responsável.

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o produto sustentável está relacionado ao fato de gerar menor perda ambiental, por ser reciclável, mais durável, por não conter substâncias nocivas e por envolver em seu processos de produção a redução no consumo de energia.

Mas, vale acrescentar que sustentabilidade também envolve aspectos sociais, portanto, um produto sustentável, soma a sua produção, entre outras coisas, geração de renda, pagamento da mão de obra de forma justa e oferecimento de condições dignas e favoráveis de trabalho.

Quer consumir de forma consciente? Pesquise. Questione. Valorize.

Pesquisar, questionar e valorizar são caminhos para o consumo consciente. Ainda de acordo com a pesquisa do Instituto Akatu, 76% dos entrevistados afirmaram não praticar o consumo consciente. O preço dos produtos sustentáveis foi apontado pelos entrevistados como a principal barreira. Existe uma ideia de que o produto sustentável é mais caro. Na realidade, o que se espera é que seu preço seja justo. E há de se levar em consideração também que são produtos com maior durabilidade.

Foto: Pixabay

A falta de informação também apareceu no resultado da pesquisa entre os principais motivos pelos quais as pessoas se mostram tão distante do estado de consciência.

Educadora e consultora de moda, Julia Codogno, da Trama Construtiva afirma que o consumidor precisa pesquisar mais. A busca por informação, hoje tão disponível em ferramentas como sites, blogs, produções audiovisuais, só para citar alguns exemplos, tem tornado acessível um movimento que ainda se mostra como um nicho, mas que precisa e muito ser difundido e ampliado.

“O consumidor precisa entender como cada produto é feito. Onde é feito. Por quem é feito. De que é feito. Precisa saber qual o impacto daquele produto no mundo. Desde a sua forma de produção até o descarte, entendendo seu ciclo de vida. Acredito que quando escolho comprar algo, tenho total responsabilidade sobre minha decisão. Preciso estar atento a cada etapa, desde a produção até o descarte. Aliás, sobre o descarte, existe essa ilusão, né? A de que, se não quero mais, jogo fora e pronto. E não existe fora. O que eu jogo ‘no lixo’ continua gerando impacto por anos.”

Refletir e avaliar os impactos do próprio consumo antes mesmo de chegar ao guarda-roupa é o primeiro passo para quem deseja rever hábitos, explica a designer de moda e fundadora do projeto EcoOuse Caroline Caron. A partir dessa avaliação, Carolina propõe algumas ações. “Tentar substituir ao máximo objetos descartáveis como copos, pratos, sacolas, entre outros, por objetos duráveis. Valorizar a mão de obra e produtos locais. Trocar ao invés de comprar. Separar o lixo e não desperdiçar água e alimentos, são os primeiros passos para ser um consumidor consciente. É preciso reduzir, reutilizar e reciclar.”

Mas será que falta informação ou educação para o consumo consciente?

Uma rápida busca no Google – principal buscador da internet – com a pergunta “como consumir de forma consciente?” traz aproximadamente 9.960.000 resultados (pesquisa realizada dia 30 de agosto, às 11h40). Ainda segundo o Google, perguntas como, “o que é consumir de forma consciente?”, “o que é o consumo consciente?”, “o que é ser um consumidor consciente?” e “o que significa o consumo consciente e desenvolvimento sustentável?” estão também relacionadas à busca que direciona para sites com conteúdos de texto e também de vídeo.

Foto: Pixabay

Em 2016, 64,7% da população brasileira acima de dez anos já estava conectada à internet, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O consumidor precisa parar de dar desculpas”, afirma Julia Codogno, que explica ainda que a infirmação sobre o consumo consciente precisa ser mais difundida entre todas as pessoas – independente de qualquer condição ou barreira. “O consumidor precisa parar de dar desculpas”, afirma.

A pesquisa do Instituto Akatu demonstra que os consumidores brasileiros conscientes e mobiliadores são pessoas com maior qualificação econômica e educacional. “Acho que é preciso que a informação seja mais acessível, não somente para grupos seletos e privilegiados, mas para toda a população. E que as pessoas cobrem mais também. Eu sempre acreditei que começamos de fato pela educação, sempre vivi o mesmo anseio, o de receber alunos que vinham com pensamentos ainda sistêmicos com relação ao mercado de moda e uma certa resistência por parte dessas escolas em tentar ensinar o novo. Muitas vezes respondendo que o novo, a tal moda sustentável, não vende. É preciso rever esses conceitos.”

Uma mudança de consciência coletiva é necessária mas implica uma série de coisas. No entanto, com um celular nas mãos e uma senha de Wi-Fi qualquer pessoa pode se conectar à conteúdos relacionados ao consumo consciente. Disseminá-los compartilhando, por exemplo, é também uma maneira de ampliar o alcance e contribuir.

“Hoje é mais fácil ter acesso às informações sobre marcas e mercado. Gosto muito de buscar informações em documentários, blogs especializados sobre o assunto, canais do Youtube”, diz Julia que dá inclusive algumas sugestões de canais de busca. “Para Docs, é impossível falar sobre consumo consciente sem assistir pelo menos três: The True Cost, The Minimalism, Demain. Para sites ou blogs: O seu, que sempre está muito alerta a tudo que acontece [referindo-se ao Moda Sem Crise], o da Cristal Muniz – Um Ano Sem Lixo, o perfil da Karin, com o Por Favor Menos Lixo e o Portal Eco Era, da Chiara Gadaleta. Para canais: No momento, estou acompanhando a série Mares Limpos, da Fê Cortez. Para Apps: O Moda Livre – que acompanha e monitora várias empresas do varejo de moda.”

App Moda Livre – Foto: Divulgação

Caroline também vê a internet como importante ferramenta para a mudança individual. “A internet é uma ferramenta importante, enviei meus convites de casamento pelo Whatsapp. Graças a ela, hoje temos acesso a muitas informações e também economizamos muito papel. Já existem aplicativos voltados para práticas de consumo consciente. Outra ferramenta é a economia colaborativa. Compartilhar com outras pessoas por meio de empréstimos, troca ou até mesmo alugar itens que usamos ocasionalmente, é uma forma de praticar o consumo consciente. Foi pensando nisso que construímos o Banco de Roupas EcoOuse – uma plataforma de trocas de roupas e acessórios novos e usados que realiza bazares de trocas itinerantes, incentivando o consumo consciente e a moda circular e que logo estará disponível online.”

Sim, existe algo errado e é preciso mudar

Tanto Julia Codogno, quanto Caroline Caron despertaram para o consumo consciente por meio da experiência com a moda. Julia conta que foi no ambiente profissional, vivenciando uma rotina insana acompanhada de 11 lançamentos anuais de coleções de roupas, que percebeu que havia algo errado. Mas, não é preciso trabalhar no segmento para compreender isso. Você também pode.

“Profissionalmente, direcionei minha carreira para poder desenvolver projetos que fariam mais sentido para o que eu acredito. Assim que pude, me desliguei da produção frenética que o varejo nos conduz e busquei trabalhar com profissionais e projetos que estejam mais alinhados com o que eu espero que a moda possa se tornar um dia”, disse ela que hoje toca também o blog Ma Belle Vitrine.

Carla Costa, vestida de braco e preto, e Julia Codogno, vestida de branco e jeans, sócias na Trama Construtiva – Foto: Trama Construtiva

“Se antes eu já era uma pessoa bem seletiva para comprar, hoje sou dez vezes mais. Passei a consumir o que realmente está alinhado com minha personalidade e com o que faz sentido pra minha vida. Entendendo as marcas produtoras, selecionando uma matéria prima que se relacione positivamente com o meio ambiente e investigando mais sobre os processos de produção. E não é nenhum bicho de sete cabeças.Comecei com coisas simples, como por exemplo produtos de higiene pessoal e coisas da rotina”, conta.

Já Caroline ao atuar como designer, no desenvolvimento de coleções de calçados, acessórios e roupas em São Paulo e Santa catarina, percebeu o desperdício e a quantidade imensa de sobra de aviamentos e materiais têxteis que iam para o lixo. E isso a despertou. “Algumas roupas que não passavam no controle de qualidade, eram empilhadas de qualquer jeito, como se não tivessem nenhum valor, só porque uma pequena costura estava torta ou porque a maquina havia puxado um fio ou ainda porque tinha alguma coisa errada com a estampa. Esse material é descartado como lixo e muitas vezes, vai parar no aterro sanitário, onde o meio ambiente e o planeta pagam a conta. Quando voltei de Santa Catarina para São Paulo, em 2014, em plena crise do setor têxtil e do vestuário no Brasil, fiquei muito desmotivada em continuar trabalhando com moda. Eu via a nossa mão de obra sendo explorada, muitos colegas desistindo de trabalhar na área ou perdendo o emprego e as marcas brasileiras, cada vez mais, deixando de confeccionar seus produtos aqui para importar da China, Índia, etc.”

Caroline Caron ao fundo de vermelho durante mobilização Fashion Revolution Brasil, movimento que cobra por transparência na moda – Foto: EcoOuse

Toda essa experiência acompanhada da crise a deixou mais esperta. Foi  partir dai que decidiu consumir de maneira mais inteligente, consciente e criativa. “Ao invés de comprar eu passei a reutilizar, reconstruir, reaproveitar, a valorizar mais as peças de segunda mão e principalmente a pensar: Será que eu preciso mesmo adquirir isso? Quantas vezes vou usar? Hoje em dia, dou consultoria de estilo, voltada para esse olhar”, conclui.

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Este conteúdo foi publicado originalmente dia 30 de agosto de 2018, mas teve sua data alterada, em 28 de dezembro de 2018, para que pudesse voltar pra home.
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