24 • outubro • 2016

André Carvalhal: A ressignificação e o propósito da moda


COMPORTAMENTO – A principal tendência de moda na contemporaneidade parece mesmo já ter nome. E ela se chama: ressignificação. De acordo com o Dicio – Dicionário Online de Português, ressignificar significa “atribuir uma nova significação a; dar um novo significado, um novo sentido a alguma coisa”. A forma de consultarmos o dicionário mudou. E inúmeras outras coisas também. Com a moda não tem sido diferente. Mas, o que estará por vir?

Co-fundador da Malha, maior espaço de moda colaborativa do Brasil, André Carvalhal está prestes a lançar seu segundo livro “Moda Com Propósito: Manifesto Pela Grande Virada”, resultado não só de suas inquietações, mas da conclusão de que a morte da moda já está anunciada. E que o caminho está na ressignificação de tudo.

Observando as transformações a sua volta, Carvalhal relacionou tudo o que pode. O telefone, a máquina de escrever, a fotografia, as relações, as conexões, a maneira de fazer e de consumir a moda. “Estamos num grande momento de transição de era. Hoje a gente vive a instantaneidade nas coisas e tudo está conectado. E tudo foi transformado. A forma de pesquisar, estudar, namorar, trabalhar. Estamos expostos todo tempo a tudo”, disse durante uma palestra que ministrou no segundo dia da programação do MoDe Abepem – Moda e Design: Economia, Inovação e Sustentabilidade – evento que aconteceu nos dias 13 e 14 de outubro em São Paulo.

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Carvalhal durante o MoDe Abepem em São Paulo – Foto: Marcela Fonseca

Para Carvalhal, assim como aconteceu com a fotografia, o futuro da moda está muito próximo de se tornar uma nova experiência. Com o incremento da tecnologia, fotos deixaram de ser impressas em lojas especializadas e passaram a ser editadas ou compartilhadas de uma outra maneira, chegando a serem impressas até mesmo dentro das casas. “Isso está bem próximo de acontecer com a moda, no momento em que as pessoas estiverem em casa com suas impressoras 3D, será possível imprimir a própria roupa. Enquanto você toma um café, sua roupa ficará pronta”, disse ele citando uma máquina criada em 2015 capaz de imprimir roupas e reutilizar resíduos. Ou seja, uma única estrutura/matéria serve de base para infinitas possibilidades de roupa. “Existem muitas transformações que a gente nem consegue imaginar”, enfatizou.

Outro fator que tem colaborado para tantas mudanças, segundo Carvalhal é a transformação dos nossos valores. Se em gerações passadas o dinheiro era a meta principal na vida, hoje o que tem motivado as pessoas é a busca por propósitos de vida. “E aí muda tudo. Não tem como continuar fazendo moda como fazíamos antigamente”, disse apontando desastres causados pelo sistema ainda em exercício na indústria. Segunda maior causadora de emissão de CO2, a indústria têxtil é também a segunda que mais gasta água e polui mares e oceanos no mundo, além de ser a maior indústria a causar mortes por suicídio.

“Trabalhamos em uma indústria que tem matado pessoas e precisamos pensar sobre isso. Pela primeira vez na história parece que a moda não sabe muito bem qual vai ser o seu futuro. E todos os laboratórios de tendências estão falando sobre o fim da moda do jeito que a conhecemos, com seu sistema tradicional, essa forma de produzir e vender”. O desafio segundo Carvalhal está em ver ressignificada a indústria mais tradicional da moda. “Marcas que já existem e estão estabelecidas passam por uma dificuldade de se transformar e se enquadrar e esse talvez seja o grande desafio que a gente vai viver daqui para frente nesse grande carrossel que é a moda.”

Mas se tem uma coisa que Carvalhal diz ter cada vez mais certeza, é que as pessoas estão se tornando cada vez mais conscientes e criteriosas e estão topando cada vez menos comprar qualquer coisa. Elas querem saber onde estão colocando o seu dinheiro. Querem saber qual papel a marca cumpre na sociedade. “Roupas e acessórios são caminhos para expressarmos a forma como nos vemos e como gostaríamos de sermos vistos e tratados. Roupa é expressão. Se hoje estamos vendo toda essa transformação no mundo, as marcas precisam representar o que as pessoas estão buscando. Elas compram por identidade”, afirmou.

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Pré-lançamento: Carvalhal voltou a falar do tema de seu segundo livro durante o último dia do Paraty Eco Festival que aconteceu neste domingo, 23 de outubro – Foto gentilmente cedida pelo Lucid Bag Guarda Roupa Coletivo

Antes de encerrar, Carvalhal voltou a dizer que esse é o grande momento da virada. Uma mudança de era para toda a cadeia têxtil e de moda. “Tudo o que vejo, o que sinto, é que nesse momento temos a chance de fato de mobilizar e transformar, porque tudo está conectado. Às vezes a gente nem se dá conta do efeito dominó. É hora de pensarmos na moda e no propósito dela. O papel da moda nisso tudo, desde o início da existência a moda teve muitas funções, expressar, proteger, identificar. O propósito da moda tem a ver com servir, tem a ver com fazer parte da vida das pessoas e poder causar transformação. Ajudar a incluir, transformar. Estamos numa indústria que tem um impacto enorme, a gente manipula tudo com o que a gente faz na moda, então porque não usar isso a favor do mundo todo? A moda com propósito para mim pensa em produtos e estratégias para mobilizar e promover transformação. É uma grande revolução industrial só que diferente do que aconteceu lá atrás quando a indústria se transformou e era pensada para atender às necessidades das fábricas. Hoje essa revolução industrial vai surgir a partir das necessidades das pessoas”, completou.

O lançamento de “Moda Com Propósito: Manifesto Pela Grande Virada”, Editora Paralela, está previsto para o dia 29 de outubro. Carvalhal é autor também de “A Moda Imita a Vida: Como Construir Uma Marca de Moda”, Editora Senac + Estação das Letras e das Cores Editora.

*Foto do destaque gentilmente cedida por André Carvalhal.

AHLMA: A marca com o DNA da Malha

Segundo André Carvalhal, a criação de uma marca de roupas com o DNA da Malha está prestes a acontecer. “A gente tem como conceito principal mais essência e menos tendência. A Ahlma é a marca que vamos produzir como se fosse também residente dali de dentro e essa marca terá investimento de grandes marcas, mas toda a forma de fazer, de se construir vai ser diferente. Os estilistas serão colaboradores das marcas dali de dentro [da Malha]”, explicou.

Mais do que um coworking a Malha é parte de um sistema colaborativo para empreendedores criativos e inovadores. O projeto nasceu do interesse comum de revolucionar a indústria da moda. Pautada em quatro pilares, -econômico, social, ambiental e cultural-, a inédita iniciativa é reconhecidamente a maior experiência de moda colaborativa no Brasil.

Localizado em São Cristovão, no Rio de Janeiro, o ambiente é estruturado em um galpão que abriga containers usados pelos colaboradores como escritórios. Há também uma fábrica compartilhada, estúdio para fotografar e uma escola que enxerga a moda como um ecossistema complexo e fascinante. De olho no futuro o local muito em breve contará em seu Fashion Lab com impressora 3D e máquina a laser.

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4 Respostas para "André Carvalhal: A ressignificação e o propósito da moda"

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