22 • fevereiro • 2017

Brechós brasileiros: A veterinária de Floripa que virou Baú Coletivo


BRECHÓS BRASILEIROS – Em 2014, quando a Endeavor – organização de apoio ao empreendedorismo e empreendedores de alto impacto – divulgou o resultado da primeira edição do Índice de Cidades Empreendedoras (ICE), Florianópolis (SC), apareceu no topo da lista das melhores cidades brasileiras para empreender. Em 2015 e 2016 perdeu o posto para São Paulo (SP), mas nem por isso deixou de ser berço de empreendedores. Formada em medicina veterinária, Amira Dantas, 33 anos, trocou  dia a dia da carreira na indústria da carne e produtos de origem animal para empreender e ser proprietária do brechó Baú Coletivo na famosa ilha e viver uma vida pautada em seus princípios e valores.

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Sem nunca ter trabalhado com moda, a empreendedora encontrou em suas necessidades a motivação que procurava para dar início ao negócio. “Nunca havia trabalhado com moda, e sempre tive muita dificuldade de acesso às roupas por conta dos valores do mercado. Em uma determinada fase da vida descobri os brechós, e o acesso foi mais fácil, mas sem muito questionamento inicial sobre o real custo da moda, ou o papel político de abdicar da compra de novos”, conta a empreendedora.

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Floripa: Uma das melhores cidades para empreender do Brasil – Foto: Amida Dantas/Arquivo Pessoal

Vegetariana desde os dez anos de idade, Amira seguiu profissionalmente por um caminho que a fez colher todos os argumentos necessários para comprovar os problemas sociais, ambientais, econômicos e energéticos relacionados à exploração animal. “Sustentabilidade sempre foi um tema em voga na minha vida, mas mais voltado à alimentação, consumo e descarte, sem um enfoque na moda, por total ignorância do impacto do fast fashion”, afirma. Então, em 2014, ao descobrir a meditação, percebeu a violência que provocou a si própria ao fazer parte de uma indústria que, anualmente, de acordo com informações do site VegGo, leva cerca de 70 bilhões de animais para abate e é a maior fonte de poluição de águas e rios do mundo com resíduos de animais, fertilizantes químicos, pesticidas e antibióticos entre outros. “Por melhores que fossem as minhas intenções, saí da área de veterinária, e o Baú simplesmente aconteceu. Adquiri um brechó próximo a minha casa, que foi ponto de venda exatamente no momento de transição.”

A primeira grande dificuldade de Amira para montar o negócio, segundo ela mesma conta, foi lidar com a mudança de paradigma em relação à profissão. Aprender a ser líder de sí, sem abusar da liberdade ou da autocrítica. E gerir um brechó sem experiência prévia, a fez pensar “fora da caixa” com o objetivo de resolver questionamentos como, por exemplo, como vender sem estimular o consumo? Como ser aceita pelo mercado sem usar das armas com as quais não concordava e marketing agressivo? Como atender a diferentes nichos e ainda assim sustentar o negócio e a si mesma? “Hoje estou mais relaxada. Aprendi a escutar meus insights e seguir minhas ideologias, tentando ser flexível, e percebi que o caminho se constrói com a caminhada. Hoje tenho mais interesse em divulgar os valores do Baú mais do que o próprio Baú em si. Encontrar sustentabilidade no negócio sem colocar em risco a sustentabilidade social e ambiental nem minha sanidade mental tem sido o caminho – e acreditar que boas intenções são a força motriz me dão base para continuar”, explica.

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Amira Dantas proprietária do Baú Coletivo – Foto: Amira Dantas/Arquivo Pessoal

Faz parte da estratégia da empreendedora, não tentar encaixar a sustentabilidade e a economia criativa em seu negócio, e seguir pelo caminho reverso. “Tento encontrar formas de mostrar que um negócio bem-sucedido pode ser sustentável e ter responsabilidade social e ambiental sem vender somente a ideia, mas partindo da prática”, acrescenta.

Brechó investe no ambiente físico para realizar vendas

Três anos após o início, o Baú Coletivo de Amira conta com loja física, em Floripa, em um bairro residencial, o Rio Tavares, pertinho da praia. A jovem é quem toca todos os trabalhos: faz os atendimentos, preparação e escolha das peças, busca por parcerias, marketing e o financeiro. “O ascendente em Virgem mantém a loja impecável no quesito limpeza, organização e setorização. Eventualmente algumas freelancers passam por aqui para dar uma mão, e uma ou outra parceria surge por período determinado”, afirma.

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Foto: Facebook Baú Coletivo

Com contas no Facebook e Instagram, as vendas não são realizadas pela internet por falta de estrutura e recursos humanos. “E por não ter ainda entendido como atuar nesse nicho”, explica Amira que faz uso das redes sociais apenas para mostrar as novidades para seus clientes.

Atender o público plus size está entre os desafios

Mesmo com o negócio todo estruturado, encaixar o brechó no mercado se se vender para têm sido um grande desafio. Para Amira, seu brechó não é apenas um negócio de moda pela moda. Existe um propósito em tudo isso.

“Encontrar parcerias que entendam que a ideologia do Baú é ‘fora da caixa’, que não estamos aqui para aceitar as demandas do mercado, mas para questionar essas demandas e mudar a visão sobre consumo – e ainda se sustentar com isso. Aprender a trabalhar coletivamente, realizar investimentos que possam auxiliar o brechó a encontrar a sua identidade – todos são aprendizados e desafios diários”, diz.

Outra questão apontada por Amira é o volume de roupas. A empreendedora explica que nem todas as peças recebidas estão em boas condições para serem vendidas ou até mesmo doadas. Não vejo sentido em simplesmente jogar essas peças no lixo, então tenho uma ‘biblioteca’ de peças para upcycling, além de peças para bijuterias retiradas de peças sem par ou quebradas, à espera de criativos que queiram e saibam o que fazer com elas”, conta.

Atender o público plus size também tem sido um desafio, porque não há no mercado peças destinadas à revenda com qualidade e estilo. O segmento é um dos que mais cresce, segundo a Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), 6% ao ano e movimenta algo em torno de R$ 5 bilhões, indo na contramão da crise econômica que afeta o Brasil, no entanto, é relativamente novo e vem sendo descoberto por pessoas que vestem acima do 46 somente agora.

Peças à venda são oriundas de bazares, ONGs e instituições

“O Baú Coletivo começou com um estoque inicial. Daí em diante, recebemos peças de doação, fizemos trocas com os clientes ‘locais’, buscamos peças em bazares de ONGs e instituições beneficentes para abastecer com peças que não chegam até nós, e estabelecemos o sistema de consignação, ainda em caráter experimental”, explica Amira.

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Foto: Facebook Baú Coletivo

Além de roupas de segunda mão, a parceria com uma marca de roupa nova produzida com algodão orgânico e que preza pela responsabilidade social, alimentam o acervo colocado à venda. “Para revender no Baú, as marcas devem ser artesanais, preferencialmente feitas com material de reuso e produzidas pertinho da gente. Todas as roupas são lavadas com produtos de qualidade (incluindo um antibacteriano e antifúngico para roupas), secas ao sol, passadas e durante esse processo são selecionadas”, diz.

Já as roupas que não atendem o padrão, mas estão em boas condições, sem manchas e sem furos são doadas. As demais são separadas para manutenção ou para a biblioteca. “Essas peças estão esperando uma parceria linda para fazer tudo isso voltar ao uso de alguma maneira e justificar sua ‘produção’ até o fim”, completa.

*BRECHÓS BRASILEIROS é uma série de publicações promovida pelo site Moda Sem Crise com o objetivo de estimular o desapego e a compra de peças que já existem e estão de alguma forma paradas. Além de falar sobre esse modelo de negócio. Conhece brechós brasileiros que merecem destaque? Envie-nos um e-mail para contato@modasemcrise.com.br informando o nome do brechó e do responsável, a cidade onde está localizado e os links das redes sociais, como o Facebook e Instagram. De tempos em tempos publicaremos novas histórias sobre brechós e você pode colaborar nos indicando comércios virtuais e/ou físicos do Brasil inteiro. E não deixe de curtir e acompanhar nossos passos por meio do nosso Facebook e Instagram.

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