18 • março • 2017

SPFWn43 termina com debate sobre moda e resistência à indústria tradicional


COMPORTAMENTO – A 43ª edição da São Paulo Fashion Week terminou na noite de ontem. O evento desde o último dia 13 recebeu nomes da indústria da moda brasileira. Ao todo 31 marcas passaram pelas passarelas -dentro e de fora do – Pavilhão da Bienal do Ibirapuera, zona sul da Capital paulista. Com o tema “In-Pactos, a edição Inverno 2017 colocou em pauta os desafios de um mundo em transição, uma delas inclusive bastante relacionada ao consumo. See now, bay now. Veja agora, compre agora. É o que vem propondo o novo modelo de negócio da maior semana de moda da América Latina. Segundo Paulo Borges, diretor criativo e idealizador da SPFW, os desfiles, hoje mais importantes do que nunca, além servirem como canal para propagação de conteúdo e informação, servem  como “ ferramenta de comunicação poderosíssima para gerar desejo e recall imediato da marca”.

Durante o evento, consumidores, influenciadores e profissionais da moda e da imprensa ávidos por novidades, circularam pelo ambiente que incentivou a compra, o descarte e a substituição: ciclo comum desta indústria. No entanto, no último dia da SPFW quem circulou pelo prédio da Bienal foi convidado a pensar e refletir sobre modelos de negócios de produção e consumo de moda e sobre padrões estéticos. Neste caso o incetivo era para: RESISTIR.

Moda e Resistência foi o tema debatido entre as convidadas do TNT LAB nesta sexta-feira (17). Com mediação de Marina Colerato, do Modefica, e as participações de Bianca Pereira, da Squad Agency, e Mariana Pellicciari, do Roupa Livre, o trio falou sobre o desafio de equilibrar resistência e existência dentro do ambiente fashion.

Da Squad,  primeira agência de moda do Brasil a reunir em seu time, modelos fora do padrão, o que inclui também jovens influenciadores com atitude, estilo e personalidade, Bianca contou como o mercado vem aceitando a ideia de pessoas diferentes e reais representarem a sua marca. Segundo a booker, as oportunidades têm sido maiores de um ano para cá. “São pessoas com ideias e objetivos suficientes para serem o que quiserem e modelar é apenas uma parte disso. Pessoas reais que se identificam de verdade com o valor de cada marca com a qual trabalha”, explica.

Bianca lembrou que um ano atrás, a agência tentou colocar seus modelos no line-up da SPFW. “É engraçado que a gente está fazendo o Fashion Week. No nosso primeiro teste, ano passado, mandamos algumas meninas, mas foram barradas porque precisavam ter certa altura para entrar para o casting. Elas não tinham a altura e riram da nossa cara”, contou a booker que na edição passada SPFWN42 teve uma chance. “Nos deram uma chance e agora, nesta temporada, rolou de novo. Eu acho que tem esse espaço que está sendo aberto. Estamos tentando abrir portas. Porque as pessoas são umas diferentes das outras.”

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Bianca Pereira da Squad – Foto: Paula Zarzi

A agência que começou a operar no início de 2016, chegou dando o que falar por seu conceito inovador. E recebeu inclusive críticas. O jeito foi resistir.  Segundo Bianca, a Squad recebeu mensagens sobre não estarem quebrando padrões, por agenciar modelos magros e brancos. “Só que não. Porque essas pessoas não viam pelas fotos que havia ali pessoas com pêlos no sovaco, com altura de 1,50 cm e não 1,85, éramos julgados pelas fotos. E ao mesmo tempo que era difícil mostrar, isso servia de prova que as pessoas eram tão boas quanto outros modelos”, conta.

À frente do Roupa Livre, Mariana define o conceito do projeto com “já existe muita roupa no mundo”. O que Mariana propõe é a transformação da relação das pessoas com o que elas vestem, a iniciativa conecta pessoas através de eventos, livros digitais, mapeamento de iniciativas, produção de conteúdos e muita mão na massa. O intuito é tornar a relação mais consciente, carinhosa e cuidadosa com as roupas. “É o existir fazendo de forma diferente, não criando mais um. Um consumo mais consciente”, afirma.

A empreendedora também enfatizou a importância e necessidade de resistir ao modelo tradicional de consumo e sobre experiência e transformação pessoal. Ela usou também como exemplo de resistência o aplicativo recém-lançado que leva o nome de seu projeto e que permite a troca de peças a partir de “match”.

“Uma das coisas que gosto é a permacultura, que é a transformação de quem está na borda. Não está nem fora, nem dentro. É na troca do que está fora e do que está dentro. Gosto do lugar que a gente não se destaca totalmente, mas que se move para transformar. Há muitas formas de exercer a criatividade, porque por mais que a gente acredite que tem roupa demais no mundo, não está esgotada a necessidade de criar das pessoas, não está esgotado o desejo de experimentar e se expressar, e acho que nunca vai esgotar, porque faz parte do ser humano”, disse. Estima-se que 80 bilhões de peças novas de roupas sejam produzidas e vendidas no mundo por ano.

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Mariana Pellicciari do Roupa Livre – Foto: Paula Zorzi

“Essa ideia de resistir vejo como caminho onde a gente dialoga para fazer circular. Estamos juntos nessa. O mundo inteiro. Mesmo que eu quisesse estar fora de alguma coisa, estamos dentro da mesma casa [referindo-se ao planeta]. E aos mesmo tempo conseguimos viabilizar o Roupa Livre na prática experimentando outras formas de transacionar. Um exemplo prático é o app que desenvolvemos e que funciona na lógica do “match”, onde as pessoas colocam suas peças e então acessa as peças de outras e se combinar, elas podem combinar a troca entre si. Ao começarmos, fomos pelo caminho tradicional. Fomos conversar com orçamentos tradicionais e eles eram astronômicos, porque é muito custos. E começamos a estudar outros caminhos e a gente entrou no financiamento coletivo e fez com um orçamento dez vezes menor que o tradicional. Então acho que encontrar caminhos é resistir”, afirma.

Resistência X Tendência

Segundo Mariana Pellicciari, a resistência não é uma simples e momentânea tendência. E para ela, o resistir está intrinsecamente relacionado à prática que transforma o comportamento. “Estamos fazendo transformações que levam as coisas muito para a prática e de formas muito mais profundas. É na experiência, na prática que se transforma o olhar.” E o grande desafio em incentivar as pessoas ao ponto de tirá-las da zona de conforto, para que exerçam a criatividade. E que busquem apoio nas pequenas redes.

“A gente não é educado para resistir, a gente é educado para se encaixar no sistema, somos educados para termos uma profissão, consumir, e alimentar isso. Tenho pensado que este é um ponto importante para as faculdades de moda, que preparam alunos com pensamento fechado. Mas como preparar e ensinar essa pessoa a resistir? Pra que não entre nessa? Penso que nas crianças e nos jovens, Vejo que é um trabalho de base, não para que as pessoas vejam como algo diferente, mas sim como natural”, diz Marina.

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Marina Colerato do site Modefica – Foto: Paula Zorzi

Para as três convidadas, a dica está em ir em busca de conhecimento prático. Conhecer outros projetos, se juntar a outras pessoas, e fazer a ideia se tornar algo possível. Uma estrutura básica, comprometimento. E ter em mente que não está sozinho. E que ainda que seja difícil, não é impossível. “A internet é uma ferramenta maravilhosa para encontrar pessoas para resistirem juntas. Porque não dá aquele sentimento de solidão, aquela sensação de que é você contra o todo o resto do mundo. O que é desanimador”, diz Marina que completa: “É muito legal estar resistindo na maior semana de moda da América Latina.”

O TNT LAB é um projeto de conteúdo proprietário do TNT Energy Drink, lançado neste ano. A ação reuniu durante os cinco dias de SPFWn43 palestras e workshops sobre diversos temas dentro das quatro plataformas da marca: música, esportes, estilo e cultura jovem. Para celebrar a parceria com o evento de moda, o energético ainda lançou uma lata alusiva ao SPFW. Outros debates ocuparam o espaço durante a semana. Na quarta (15) o tema foi consumo consciente e veganismo na moda, com debate mediado por Marina de Luca (Moda Limpa), Mariana Iacia (Svetlana), Claudia Bartelle (Jardim Secreto) e Mariana Bonfanti (Jouer Couture). E quinta (16), a estilista Chyntia Mariah falou sobre apropriação e assimilação cultural em palestra com Evandro Fióti, da LAB.

*Foto destaque: Paula Zorzi

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2 Respostas para "SPFWn43 termina com debate sobre moda e resistência à indústria tradicional"

Projeto Top Five: Green Co. desfila moda limpa na SPFWn43 — Moda Sem Crise - 18, março 2017 às (16:07)

[…] SPFWN43 TERMINA COM DEBATE SOBRE MODA E RESISTÊNCIA À INDÚSTRIA TRADICIONAL […]

Qual oportunidade podemos experimentar hoje? — Moda Sem Crise - 03, abril 2017 às (10:34)

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