17 • outubro • 2016

Estilistas investem na moda que beneficia a pessoa com deficiência


MODA – Jovens talentos da moda brasileira estão abrindo os olhos para a produção de coleções capazes de facilitar o dia a dia da pessoa com deficiência. Mais do que trabalhar um conceito, o desafio é atender todas as necessidades adaptando formatos, em alguns casos, com recursos simples, em outros, mais elaborados. Provando que a chamada Moda Inclusiva ou Moda Adaptada é sim possível e precisa ser consolidada. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem hoje cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Só o Estado de São Paulo, soma mais de 9,3 milhões.

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Eduardo Inácio Alves, de Campo Grande, MS, em pé entre seus dois modelos cadeirantes e as suas duas produções vencedoras do concurso. E ao lado da mulher e modelo com membro inferior amputado, o estilista iraniano Ali Entezari, que ficou em terceiro lugar. Todos estão sorrindo. – Foto: Divulgação SEDPcD

Com apenas 25 anos de idade, Eduardo Inácio Alves, morador de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, atua há sete anos no mercado da moda. Graduado e pós-graduado, ele que além de estilista é professor, tem se dedicado à pesquisa e ao projeto de moda adaptada. “Desde a faculdade era apaixonado por questões de sustentabilidade. Já a moda inclusiva entrou na minha vida de fato em 2015 e se tornou minha paixão”, contou.

Alves há quatro anos soube da existência de concursos que premiam projetos pensados para pessoas com algum tipo de deficiência. “Mas nesta ocasião pensei: ‘isso não é pra mim’. Passados dois anos vi em um jornal do meu Estado outra notícia. Foi quando resolvi tirar o preconceito que havia em minha cabeça e comecei a ler a respeito, conversei com pessoas, e foi assim que me apaixonei pelo tema com o qual quero trabalhar hoje em dia”, explicou.

Vencedor da etapa internacional do 8º Concurso de Moda Inclusiva, que aconteceu no sábado (15), Alves promete a partir de agora conciliar em suas produções conceitos da sustentabilidade com os da moda adaptada. O estilista ganhou em segundo e em primeiro lugar, com produções masculina e feminina. “Tenho uma marca, chama Cru, ela não trabalha com roupas adaptadas, mas estamos trabalhando uma reformulação, o objetivo é trabalhar a partir daqui somente com o reaproveitamento de tecidos e pretendo trabalhar só com a moda adaptada. Porque a roupa adaptada serve não só para a pessoa com alguma deficiência, mas é uma roupa bastante confortável e serve também para mim, o que me dá mais mobilidade. Penso na rampa planejada para o cadeirante que serve também para o idoso, a mãe com o bebê”, disse Alves.

Para o estilista, eventos como os concursos realizados em diferentes cidades brasileiras, assim como foram os jogos Paralímpicos, sediados em setembro no Rio de Janeiro, estão dando mais visibilidade às necessidades e aos direitos e, principalmente, à eficiência das pessoas com deficiência. “As pessoas eram muito fechadas, mas com a Paralímpiada deu uma mudada. E isso é importante porque a informação faz com que as pessoas deixem de lado o preconceito. Temos que lembrar que estamos falando de uma fatia muito grande da população brasileira. Pessoas eficientes. Está na hora de mudar o olhar”, completou.

Quem também aposta no segmento é a mineira de Abaeté, Larissa Cunha. Com um trabalho autoral incrível ainda em construção, mas bastante promissor In.Co.Brand, a recém-formada estilista de 22 anos, há cerca de dois anos tem trabalhado em uma pesquisa em busca de respostas tanto para a moda inclusiva, quanto para a moda sustentável. “Gosto de usar os dois conceitos. Minha roupa tem material reaproveitado e quero investir neste segmento porque vejo que faltam opções. E as dificuldades precisam ser solucionadas em todos os momentos. Me refiro ao momento da compra, não há acessibilidade em lojas, os provadores são pequenos, não são feitas etiquetas em braille”, afirmou Larissa que explica que muitas adaptações são muito necessárias para que a verdadeira Moda Inclusiva aconteça.

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Rosy Gama é cadeirante e desfila na passarela look criado por Larissa Cunha – Foto: Divulgação SEDPCD

Larissa também esteve entre os finalistas do concurso e suas peças se confundiam com o resultado apresentado na coleção do seu TCC, apresentado em agosto, em Belo Horizonte, inspirada na obra do artista Arthur Bispo do Rosário. “Trabalhei nas peças detalhes que facilitam muito a vida da pessoa com mobilidade reduzida. O tecido eu mesma desenvolvi com fios reutilizados. Fiz adaptações na modelagem, costura, zíperes, velcro, manga removível e estampa em braille”, completou.

Especialista em vestidos de festas, a estilista de Mogi-Guaçu, Andréia Zibordi, 32 anos, também levou para a passarela do concurso uma peça adaptada, mais precisamente um vestido para noiva cadeirante. Seu interesse pela moda inclusiva aconteceu após manter contato com alguém de quem viu de perto as necessidades. “É um trabalho que tem funcionalidade. Como trabalho com moda festa, queria adaptar um vestido de noiva para cadeirante. Para isso usei detalhes que normalmente se usa num vestido de noiva, só que a produção foi adaptada. São tecidos e detalhes que tornam a roupa funcional e adaptada”, explicou. O desejo agora é investir cada vez mais nas roupas adaptadas em seu Ateilier Andréia Zibordi. “Quero fazer vestidos de noivas, vestidos de festas ou qualquer roupa que queiram”, completou.

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A modelo Mariana Meneghel desfilou vestido de noiva assinado por Andréia Zibordi – Foto: Divulgação SEDPCD

Modelos aprovam roupas e iniciativa

Usando o vestido de noiva desenvolvido por Andréia Zibordi, a advogada e modelo, Mariana Meneghel, 29 anos, cruzou a passarela. Diante dos jurados, a saia longa foi removida o que deixou suas pernas à mostra e revelou a outra face do vestido de festa. Acostumada com ensaios fotográficos, Mariana se mostrava segura antes do desfile. “Acho que a moda inclusiva e, principalmente, esses concursos servem para que possamos mostrar para a sociedade o quanto somos capazes”, disse.

Veterana de passarela, Rosy Gama, 36 anos, participava do concurso pela sexta vez. “Sempre dá um frio na barriga. É estilista nova. Roupa nova”, comentou. Rose que é cadeirante desfilou a crianção de Larissa Cunha e destacou a importância da moda inclusiva. “Essas roupas são fáceis de usar. No meu caso não tenho tanta dificuldade de vestir porque tenho um pouco de força nas pernas e agilidade nos braços. Mas para pessoas com outras limitações, principalmente na parte superior facilita e torna o vestir uma ação mais independente”, completou.

A expectativa agora é ver cada vez mais roupas adaptadas para pessoas com deficiência vendidas de forma e com preços tão acessíveis quanto!

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3 Respostas para "Estilistas investem na moda que beneficia a pessoa com deficiência"

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