MODA – Moda e sustentabilidade nunca caminharam tão juntas como atualmente. A preocupação em reciclar, reutilizar e afetar cada vez menos o planeta chegou às passarelas para ficar. Conceitos como o slow, que incentiva a valorização da diversidade e da riqueza de nossas tradições; e o upcycling que visa a criação de produtos valiosos a partir de resíduos e materiais descartáveis estão em alta, fazendo com que jovens produtores e estudantes de moda estejam cada vez mais atentos a essas tendências.
A Odyssee, que surgiu através de um projeto de graduação de moda que pesquisava resíduos sólidos e suas políticas e práticas no Brasil e no exterior, é um representante do conceito upcycling no Brasil. A marca, criada pela designer de moda carioca Fernanda Nicolini, de 34 anos, produz acessórios a partir do reaproveitamento de resíduos eletrônicos. “Cresci vendo meu pai montar e desmontar coisas, consertar e inventar coisas eletrônicas e quando em minha monografia a faculdade propôs que desenvolvêssemos coleção dentro do universo sustentabilidade, resolvi unir o útil ao agradável e falar sobre várias questões que venho observando ao longo do tempo como consumo desenfreado de gadgets, obsolescência programada e descarte incorreto”, explicou a designer.
Assim como Fernanda, alunos do curso técnico de Produção de Moda do Senac Penha abraçaram o conceito e criaram o projeto (Re)Novamoda, que traz, por meio da moda, a reflexão sobre o impacto socioambiental causado pela produção da indústria têxtil.
Na noite de quinta-feira, 16, o grupo de alunos apresentou como trabalho de conclusão do penúltimo módulo, um desfile que levou para a passarela marcas que se identificam com o slow fashion, upcycling, produção local e que se preocupam com o consumo consciente, entre elas, a Odysee.

Look composto por peças da marca Molett, colar criação do (Re)Novamoda e calçados Inbox Shoes- Foto: Divulgação Senac São Paulo
Segundo Luiza Mendonça, 20 anos, produtora de moda do (Re)Novamoda, o grupo, formado por 13 alunos, não confecciona peças, por isso realizou uma curadoria para selecionar as marcas que se encaixaria perfeitamente nos conceitos e objetivos. “Além das marcas, também estamos produzindo em brechós, que também se encaixam no consumo consciente, por ter peças de segunda e que não vão mais consumir energia ou recursos naturais para sua fabricação”, relatou.

Produção com colares Odyssee, vestido Brechó Associação Santo Agostinho e mochila Panoplano, sapato acervo do (Re)Novamoda – Foto: Divulgação Senac São Paulo
Também integrante do grupo, a produtora de moda Bianca Brandino, 22 anos, conta que o projeto lhe trouxe uma experiência significativa em pesquisa e desenvolvimento: “É primeira vez que desenvolvi um projeto desde o começo, aprendi sobre a produção em si, o relacionamento com as marcas, o desenvolvimento do styling, além de toda a comunicação do evento”.

Produções com marcas Avah, Molett, Côté, Brechó Lexik, Vegano Shoes e Inbox Shoes – Fotos: Divulgação Senac São Paulo
O desfile que aconteceu no Centro Cultural da Penha, na zona leste, revelou para a plateia 45 looks. “Organizamos um desfile sustentável, no qual utilizamos marcas que trabalham com acessórios e materiais reaproveitados. Queremos passar para o público um novo conceito de moda e como podemos consumir acessórios e roupas que não prejudique o meio ambiente”, enfatizou Bianca Matos, 19 anos, produtora de backstage. “Eu já tinha um conhecimento sobre slow fashion, brechós e upycicle, mas este trabalho no curso me trouxe uma ampla visão sobre moda sustentável”, complementou a produtora de moda Mariana Maceu, 20 anos.

Outras produções apresentadas pelo (Re)Novamoda com a participação do Brechó Lexik, Maria Tangerina, Comas, Cycleland, Srta. Galante, Brechó Minha Vó Tinha, Avah, Vegano Shoes e Zerezes – Fotos: Divulgação Senac São Paulo
Entre as marcas apresentadas na noite de ontem estava a Avah, das estilistas paulistas Ticiana Furriela, 26, e Bárbara Contin, 27, que utilizam para suas criações, resíduos, pequenas confecções e artesãos. “Estamos inseridas no mercado de trabalho de moda, e nele como é de amplo conhecimento ocorre um grande desperdício de material e por vezes desrespeito a cadeia de fornecimento. Nisso enxergamos uma oportunidade de fazermos algo para melhorar tais questões”, contaram. “Nós ficamos muito felizes em participar do evento que tem os mesmo princípios que valorizamos”.
A Comas também esteve entre os looks desfilados. Fundada em 2008 pela uruguaia Augustina Comas e lançada em julho de 2016, a marca traz diversos modelos de camisa feminina, vestidos, saias, chemises produzidos a partir do reaproveitamento de camisas masculinas.
O desfile também contou com as marcas Assa, Brechó Minha Vó tinha, Brechó Lexik, Voyage Vintage, Gostou, Cótê, Cycleland, Srta Galante, Mollet, Vegano Shoes e Verssa.

O desfile aconteceu na última quinta-feira no Centro Cultura Penha – Foto: Divulgação Senac São Paulo