17 • janeiro • 2016

A importância que existe em todos nós


O que faz uma pessoa ser importante? Afinal, o que nos torna pessoas “especiais”? Penso que a resposta está na maneira como nos relacionamos com o outro, falo inclusive daquelas pessoas que não estão ao redor. Claro que a primeira relação que temos que viver é bastante íntima e pessoal. Mas, é a partir dai que o mundo passa fazer sentido (ao menos para mim). Confesso que não precisei ir muito longe para me sentir importante para alguém. E devo (e muito) isso a Priscila Tieppo. E o ponto de partida para que o Moda Sem Crise viesse à tona está intimamente relacionado a melhor inspiração que eu poderia ter: — a Pri!!!

 

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Ensaio fotográfico de Priscila – Produção: Marcela Fonseca Fotos: Elaine Paiva

Esse é o primeiro texto que escrevo para o Moda. Foram várias as tentativas de escrever algo à altura. Que pudesse a orgulhar. Tarefa complicada. Não sei se alcancei. Já que o nó na garganta e a dor no peito teimam ficar a cada linha. Mais do que me sentir importante, o que sinto é uma saudade que não tem fim!

Mas, precisamos recomeçar não é mesmo? O que seria de nós se não existissem os começos, e principalmente, os recomeços??? E é disso que quero falar. Mas, não sem antes dedicar esse projeto a Priscila Tieppo. Amiga que sempre me incentivou a continuar no que quer que fosse, que sempre deu força, ouviu e aconselhou, me fiz rir e chorar.

Se tivesse a chance de conversar outra vez contigo, amiga, diria que sequer podia imaginar o quão fascinante seria aceitar e colaborar a ‘reconstruir’ seu guarda-roupa no início de 2014. E que ouvi surpresa quando contou o tipo de relação que mantinha com sua aparência. Que as curvas do seu corpo lhe causavam incomodo. Logo você a quem sempre admirei? Que sempre foi um verdadeiro exemplo em tudo para mim! Eu diria que foi uma tremenda responsabilidade a minha fazer com que você se enxergasse por fora, exatamente como era também por dentro: LINDA! E eu diria que foi privilégio ser sua amiga, privilégio ainda maior fazer parte deste processo que a fez se autoaceitar. Que a fez se amar!

Eu te contaria que foi depois disso que passei a dar atenção aos programas de TV que mais do que estilos, transformam vidas. E que escrever sobre moda ou estilo parecia perigoso, porque sempre existiu o medo de levar o assunto por um caminho totalmente fútil. Mas, então, com seu jeitinho me fez enxergar o quanto uma pequena mudança é capaz de fazer alguém se sentir especial. E que não são poucas as pessoas com uma visão equivocada e depreciativa de si mesmas. E que me entristece pensar que o mundo que as influência não as valoriza.

Talvez dai onde você está, Pri você já saiba disso tudo!

Você foi forte e fiel em todo o seu processo de transformação… Mudou não só a forma de se vestir, mas a maneira de se relacionar com o mundo. Diminuir o tamanho das saias para mostrar as pernas, investir em vestidos que valorizavam a sua silhueta, soltar os cabelos, assumir os cachos e se ‘jogar’ em um ensaio fotográfico foi apenas uma consequência da seu reencontro consigo mesma, amiga!

E toda essa experiência também provocou uma mudança em mim. E é por isso que estamos aqui. Porque me fez entender a importância de provocar uma influência positiva no outro. Meu desejo é que o Moda Sem Crise seja como uma ferramenta, pronta para ajudar quem passar por aqui! E todo esse combustível tem a ver com essa nossa história. Agora é hora de recomeçar e provar as pessoas que o que as torna especiais não são suas roupas, acessórios ou sapatos. O mais bonito é vestir-se de si mesmo!

(Priscila partiu, em novembro de 2014, aos 32 anos. Depois de mudar o visual, a Pri fez um lindo ensaio fotográfico. E meses antes de ir havia escrito o texto abaixo. O reencontrei em minha caixa de e-mail no final do ano passado. O texto na íntegra foi enviado à família que autorizou sua publicação)

O que quero ser

[por Priscila Tieppo]

Sempre fui gordinha. Acho que a única vez que me vi magra foi em uma foto, com sete anos. Mamãe achou que eu estava magrinha e dá-lhe vitaminas.

Mesmo sem as vitaminas seria gordinha. Minha família nunca foi das magérrimas. As mulheres sempre tiveram quadris largos e coxas fartas.

Cresci em um ambiente que ser gordinha era natural enquanto eu era a criança fofa dentro de casa. Pra virar adolescente, era melhor emagrecer.

Aos 16 anos fiz a primeira dieta que me recordo. Recordo porque um belo dia desmaiei antes de ir à escola. Só acordei quando meus pais e meus irmãos me deram álcool pra cheirar. Eu estava pálida.

Fazia exercícios em jejum, não comia carne e no intervalo da escola não podia comer também. Tomava remédios para emagrecer. Tudo com a “orientação” de um médico. Me tornei uma adolescente nervosa. Eu estava muito chata!

Ok, se eu emagrecesse seria aceita, ficaria mais bonita e as pessoas parariam de me chamar de gordinha. Era um sacrifício pra atingir essa meta – que naquele momento não tinha fundamento ou motivação própria.

Mas quando eu desmaiei não quis mais continuar com a dieta. Olhando as fotos hoje, eu não era tão gorda assim, mas, com certeza, meu corpo era diferente do das coleguinhas. E que mal havia nisso?

Lembro que as pessoas gostavam de estar comigo, eu tinha meus paqueras, mas, claro, me sentia envergonhada por ser gordinha.

Eu ouvia sempre dentro de casa que precisava emagrecer. Mas eu nunca vi um motivo que fosse meu de fato. E em todas as dietas isso aconteceu. O desejo de emagrecer vinha de uma pressão externa.

Mentiria se dissesse que nas raras vezes que consegui emagrecer eu não me sentia bem. Eu me sentia linda, ainda mais porque as pessoas diziam isso. Mas eu não me via naquele corpo. Era como se ele pudesse ir embora a qualquer momento e eu voltaria a ser eu mesma – gorda.

E isso sempre acontecia. No final, eu engordava e tudo virava frustração.

Foi nessa fase da adolescência que comecei a esconder meu corpo. A bunda grande, a barriga, as coxas. Roupas largas me ajudavam a me esconder. Era um mecanismo de defesa, tanto pra timidez como pra falta de confiança.

Usar vestidos, saias, shorts, mesmo tendo as pernas bonitas? Usar biquíni ao invés de maiô? Nada disso acontecia. Me via maior do que realmente era. E se eu fosse maior, teria mesmo que me esconder?

Hoje me faço essa pergunta e sinto que fui injusta com meu corpo, com as minhas vontades, quando era adolescente. Poderia ter vivido e aproveitado muito mais os momentos se não me preocupasse tanto em me esconder.

A primeira vez que alguém perguntou por que me escondia tanto, foi logo depois que ouvi de alguns rapazes que meu “estilo” os agradava. Por que eu sempre achei que só um tipo físico agradaria se nem eu tenho um definido pra apreciar nos homens?

Porque a mulher tem que ser magra, mas o homem pode ser do jeito que ele quiser. Se ele pode, eu também posso – penso hoje.  Mas do que um tipo físico, preciso ser eu.

Não quero aqui levantar uma bandeira e dizer: ser gorda é melhor que ser magra, não é isso. Queria que as pessoas respeitassem seu próprio tipo físico e o alheio. Porque se sentir bem é o primeiro termômetro e tem que vir da pessoa e não dos outros, como acontecia comigo e eu demorei pra entender.

Não existe tipo físico correto. Existe aquele que é seu, por genética, e aquele que você escolhe pra ser seu porque se sente bem. Quando digo que não há problemas em ser gordinha, também estou dizendo que ser magrela não é defeito.

Hoje, temos muitas modelos plus size mostrando que ser bonita independe do seu tipo físico. E quando você se aceita, a vida é muito melhor.

Sou gordinha, tenho meus exames em dia, sou saudável. Gosto das formas do meu corpo, não implico mais com o tamanho da minha bunda e nem das minhas coxas. Mas às vezes também acordo achando que nada fica bom em mim, como acontece com qualquer mulher.

Hoje não importa mais se o cara vai me olhar torto porque estou acima do peso. Aprendi que todos têm o direito de gostar ou não de você, contanto que te respeitem. E respeitar é não julgar.

Sou assim. E é assim que eu quero ser: real.

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9 Respostas para "A importância que existe em todos nós"

Larissa - 18, janeiro 2016 às (11:32)

Olá, passei aqui para curiar. rs

Sucesso , meninas.

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Marcela Fonseca Marcela Fonseca - janeiro 20th, 2016 em 9:36 pm respondeu:

Obrigada, Lari. Volte sempre!!! <3

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Fabi - 18, janeiro 2016 às (13:30)

Primeiro PARABÉNS as minhas amoras Di e Ma, desejo todo sucesso do mundo ao Moda sem Crise, e dizer (só pra variar!) que amei o site, em eapecial, a matéria da Pri, na qual me identifiquei muito!!!
Estarei sempre por aqui acompanhando esse trabalho lindo, feito com amor e carinho!!!

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Marcela Fonseca Marcela Fonseca - janeiro 20th, 2016 em 9:37 pm respondeu:

Obrigada pelo carinho, por confiar e apoiar este projeto que amamos tanto, Fabi!!! Você é showWWW!!! <3

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Mariana Lahoz - 20, janeiro 2016 às (18:09)

Meninas, parabéns pelo blog e obrigada por nos permitir matar um pouquinho a saudade da Pri lendo esse texto dela, com o qual, igualmente a Fabi, abaixo, me identifiquei!

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Marcela Fonseca Marcela Fonseca - janeiro 20th, 2016 em 9:36 pm respondeu:

Obrigada, Mariana! Sim, a gente acaba matando um pouquinho a saudade. Creio que de onde está, deve estar contente. Essa é a nossa sincera homenagem a esta mocinha que sempre nos fez tão bem e que deixou muita saudade… Beijoooo!!!

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Moda Sem Crise » Ela passou por nossas vidas e nos ensinou sobre a liberdade de ser quem somos - 20, maio 2016 às (01:02)

[…] de algumas ideias, fechamos o nome: Cause Maria! Em poucos dias, o primeiro (e único) texto (que você lê aqui) já estava escrito, pela própria Priscila. Fizemos planos de como tudo seria, mas infelizmente, […]

Michelle - 28, julho 2016 às (01:41)

Incrível essa história Ma! Com certeza onde quer q sua amiga esteja ela tem orgulho de vc … Dos seus textos … Do moda sem crise e etc … Amei conhecer a estrelinha PRI pelas suas lindas palavras!

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Menina ou mulher você linda sim! Você é inda assim! — Moda Sem Crise - 03, março 2017 às (02:41)

[…] a que nos trouxe até aqui, o primeiro de todos, quando partimos para a ação ao fotografar nossa amiga Pri, sempre mencionada aqui, e histórias como da Elaine e da Fabi continuem a estimular e encorajar mulheres como eu, como […]

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