09 • fevereiro • 2017

Meu corpo, minha sensualidade e minha liberdade


CAUSE MARIA – Sou uma grande fã e adepta das fotos sensuais, e apaixonada pela sensualidade em geral, mas nem sempre foi assim e nem sempre a minha relação com o meu corpo foi tão boa. Creio que isso aconteça com inúmeras mulheres. Há muito tempo não pensava ou lembrava dessa relação antiga, até que em 2016, ao participar da campanha #SouLindaAssim, do Moda Sem Crise, falei sobre ela em uma entrevista e voltei a refletir sobre isso. Na verdade, tive alguns problemas relacionados a me tornar adolescente, à mudança de corpo, às curvas, ver seios e quadris crescerem me incomodava. Os homens mais velhos (muito mais velhos) me olhavam e isso para mim não era legal, afinal eu era uma criança de 12 anos.

Em um dia, voltando da aula de educação física, eu estava usado camiseta branca e shorts justos, típico uniforme de escola e um desses homens chegou a me dar uma “cantada”.  Acho que não eram palavras para se dizer a uma criança. Talvez para ele não significasse nada, mas para mim, serviu para que eu me escondesse muito ao longo dos anos que viriam. Durante muito tempo, me vesti como um garoto: bermudas, calças largas, bonés e me interessava bastante pelo guarda-roupas do meu irmão. Quem me conhece daquela época, deve se lembrar disso. De fato, eu achava que quanto mais parecida com os homens eu estivesse, mais protegida deles eu estaria.

Além da paixão pela fotografia, tenho também um gosto forte pela dança, fiz ballet durante a minha adolescência e com 19 anos, decidi partir para outras modalidades. Na época, comecei a fazer aulas de musculação e participava de aulas com ritmos mais sensuais para aeróbica. O ballet me auxiliava na delicadeza e na postura, mas esses outros tipos de dança começaram a me fazer observar e a gostar do meu corpo, mas ainda tinha algumas inseguranças, não gostava de ser observada.

Embora estivesse feliz com a sensualidade que transmitia ao dançar, com o corpo que eu olhava no espelho ao me observar sozinha, ainda me sentia incomodada com as minhas curvas, com o bumbum grande, que na minha concepção destoava do corpo mais magro. Achava meu corpo exuberante, agressivo. Eu até começava a gostar dele, mas pensava que isso faria as pessoas me verem apenas sexualmente.

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Ensaio realizado em Arujá (SP) em 2017 – Foto: Jéssica Alessandra Alves da Silva

Não sei se pela religião (sou católica), ou pelo homem que me abordou aos 12 anos, usar roupas que expunham o meu corpo sempre foi uma dificuldade. Fora isso, sempre busquei um reconhecimento profissional e pessoal, acima de beleza e de corpo, muito provavelmente, por causa dessa história da adolescência. E  sempre tive medo dessa dependência de ter que ser bonita ou ter corpo incrível como nos é imposto diariamente.

O fato é que isso de alguma forma também me atrapalhava sexualmente e embora eu soubesse que esta relação (sexo) era muito boa comigo mesma e começava a gostar do que via em mim, eu me reprimia ao forçar me esconder das pessoas.

Perceber que mudar isso tudo só dependia de mim, foi só primeiro passo. Discordo que todas as pessoas precisem ou tenham que se expor e exibir a sua sensualidade, mas eu queria e me prendia, por motivos hoje ao meu ver, infundados.

As aulas de dança contribuíram muito para que eu mudasse tudo, principalmente as de dança do ventre, estar me relacionando com um homem que me trouxe boas descobertas e que ama minhas curvas (aquelas mesmas que me incomodavam), também foi uma boa contribuição, pois isso entra no fato de relacionar-se com quem te acrescenta, mas saber que essa aceitação deveria partir de mim e não dele ou de qualquer outra pessoa, foi fundamental. Não me reprimir por causa das impressões alheias.

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Ensaio realizado em Suzano (SP) em 2017 – Foto: Equipe Morango Negro

Ler muito sobre sexualidade, sensualidade e também trabalhar o meu autoconhecimento me fez perceber que tudo o que eu precisava era me aceitar e que isso é a única coisa que eu não fazia, pois buscava a aprovação e reprovação no olhar do outro.

Usar a fotografia também foi uma ótima jogada. Poder me olhar, me gostar naquele espelho paralisado também fez parte dessa terapia. Conversei com muitas mulheres e vi que a insegurança não foi e não é uma exclusividade minha. Que grande parte delas tem ainda uma vida sexual péssima por falta de autoconhecimento e aceitação do seu corpo e de suas vontades.

Mas me sinto feliz hoje por ter conquistado uma segurança para ser o que eu sou o que gosto de ser, com o corpo que tenho fora dos padrões estabelecidos, com liberdade para sensualizar sem repressão e com o respeito que conquistei com todas as outras coisas que trabalhei em mim pessoal e intelectualmente. Ainda tenho aquela timidez gigante que é minha marca registrada, mas isso acho que é de personalidade não vou conseguir mudar muito, mas tento driblá-la algumas vezes.

Temos dias ruins, como todas as pessoas. Aqueles em que o cabelo não ajuda, em que a roupa não cai bem, mas na maior parte do tempo é pensar que o poder está em nós e não no externo, que o prazer que o outro nos dá está na forma que o recebemos e em como nos abrimos para isso. E o que queremos ser, mostrar e fazer só depende de nós.

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Aquela sensualidade que não está só corpo — Moda Sem Crise - 07, março 2017 às (20:18)

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