31 • julho • 2018

Voa, Maria: Jornalista cria plataforma para tratar dos desafios e conquistas do empreendedorismo feminino


Um dos nomes mais populares do Brasil – segundo dados do IBGE – é Maria. Nome que serviu de inspiração para a jornalista Camila Silva – de sobrenome também bem brasileiro – para criar o Voa, Maria. Uma plataforma de conteúdo sobre empreendedorismo feminino e mentoria que nasceu de maneira despretensiosa, mas com vontade de fazer diferença na vida de brasileiras empreendedoras.

Jornalista do tipo que escrevia sobre economia, Camila se descobriu empreendedora após deixar a redação. Em 2013, o convite de um ex-chefe a fez encarar o desafio em uma pequena agência de comunicação. “Em vez de estagiária, aceitei o desafio na posição de sócia. Foi assim que comecei a empreender. Mas quebrei a cara por dois anos. Era um parto conseguir novos clientes. Então, decidi ir a um evento de empreendedorismo feminino. Pensei: essas mulheres vão comprar meus serviços, afinal, só encontrarei empresárias lá. Mas me deparei com uma realidade completamente diferente”, relembra.

Camila conta que percebeu neste evento o quanto pequenas empreendedoras precisavam – e ainda precisam – de informação. Esse foi o ponto de partida para a criação do Voa, Maria. Lançado em 14 de outubro de 2015, o projeto seguia as seguinte premissas, de acordo com a jornalista:

Dar maior visibilidade aos negócios capitaneados pelas mulheres. “Porque quando fiz um benchmark com outros veículos, notei que dava para contar nos dedos o número de mulheres empreendedoras que ganham destaque nestas publicações”; humanizar a empreendedora contando sua história; e isso sem romantizar o empreendedorismo. “É difícil sim, mas todas as matérias têm as vantagens e os desafios que cada empreendedora enfrenta”, explica Camila que queria fazer deste um projeto lúdico, mas não uma “Caras”. “Em todas as matérias procuro ressaltar os investimento que as entrevistadas fizeram em conhecimento e também como elas superaram desafios. Mesmo que a leitora e a entrevistada sejam de segmentos diferentes, certamente uma tem muito a ensinar e inspirar a outra.”

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Projeto completa três anos em outubro – Foto: Divulgação

Mas, até então, a relação da jornalista com o empreendedorismo feminino era zero. “Eu não sabia praticamente nada de feminismo. costumava dizer que ‘não era feminista, mas sim a favor da igualdade’, até porque tinha uma certa ‘distância’ de mulheres, sabe? Aquela coisa de ver outras mulheres como concorrentes. Neste sentido, o Voa, Maria me modificou em diferentes maneiras. Primeiro porque decidi abrir um site para falar sobre empreendedorismo e ajudar pequenas empreendedoras – que chamo de Marias – mas eu fui a primeira Maria. Sendo bem honesta, apesar de técnica em logística e ter uma extensão em Economia pela Fipe, eu não sabia absolutamente nada sobre gerenciar um negócio e fazê-lo crescer. Aprendi muito e revolucionei o meu negócio com o Voa, Maria. Aliás, hoje meu único negócio é o Voa, Maria. Segundo porque a prática de entrevistar mulheres quase todos os dias me mostrou um novo universo. Conheci dificuldades que a maioria das mulheres enfrentam e que eu desconhecia. Passei a entender e amar as mulheres. A entender nossas dores e desafios e lutar por eles. Enfim, sou uma nova pessoa graças ao Voa, Maria e sou muito grata ao projeto por isso”, afirma.

Empreendedora ainda enfrenta desafios

Comportamento comum entre empreendedoras e que pode custar muito, a auto sabotagem foi um problema que Camila Silva precisou superar. Hoje seu desafio é outro. “Minha dificuldade sempre foi vender. Antes eu tinha comportamento autossabotadores que faziam com que eu simplesmente travasse antes de fazer as vendas. Investi até em terapia. Hoje, meu desafio é escalar o negócio. Viralizar o Voa, Maria e vender soluções e conteúdo em larga escala pela credibilidade do projeto”, comenta.

Para a jornalista, o maior desafio de uma empreendedora é ver a empresa como um negócio e investir, principalmente, em conhecimento. “Posso arriscar que 99% dos empreendedores sabem sequer o quanto precisam faturar para fazer o negócio crescer”.

E Camila elenca a falta de planejamento e marketing, além de ter domínio sobre os processos e particularidades que o negócio exige como as principais brechas. “Mas não pense que sou arrogante. Eu fazia parte destes 99%. Não tinha noção de nada. Só tomei ciência da minha ignorância quando decidi abrir o Voa, Maria. E, além de estudar para escrever matérias, investi também em um MBA de Gestão Empresarial na FGV.”

Sororidade: Grupo no Facebook promove integração

Para compartilhar o que aprendeu e o que vem aprendendo com o Voa, Maria, a jornalista Camila Silva conta também com um grupo no Facebook que já soma mais de 10 mil membros – todas mulheres empreendedoras ou aspirantes ao empreendedorismo.

“O grupo no Facebook surgiu da falta de sororidade de outras redes de empreendedorismo feminino. Mais que compartilhar as minhas entrevistas e novidades, a ideia do grupo é que as pessoas compartilhem experiências e conhecimento. Não quero ser um grupo de vendas. Já existem grupos fantásticos que fazem isso muito bem. E hoje também sou desapegada de likes e membros. Quero ter um grupo de mulheres que querem voar de verdade no mundo dos negócios e não gente que só aparece para fazer spam.”

O que Camila propõe no grupo é estabelecer um relacionamento com essas empreendedoras e não que ela seja simplesmente um número. “Claro que hoje eu já não tenho tanto tempo para me dedicar a esta troca de mensagens, mas garanto que das dez mil mulheres presentes lá no grupo, todas receberam uma mensagem minha, convidando-a para conhecer o Voa. A grande maioria não me responde. Uma pena. Mas graças a este contato pude mapear os interesses da maioria e criar soluções que realmente interessam para estas mulheres.”

Para a jornalista, o melhor benefício de criar um grupo no Facebook é atrair pessoas que estão realmente interessados no seu ramo de negócio. “Partindo desta premissa, invisto em relacionamento com as meninas do grupo, pois sei que, mais que vendas de cursos, consultorias e serviços de comunicação (que eu fazia, hoje não faço mais), muitas meninas se tornaram seguidoras e até divulgadoras do Voa, Maria por livre e espontânea vontade. É muito gratificante viver isso”.

Camila tento ainda conhecer pessoalmente as mulheres, as iniciativas e os detalhes do negócio de quem participa da comunidade virtual. “As entrevistas para o site, por exemplo, são feitas majoritariamente por telefone, pelo menos. 80% das Marias são de São Paulo, mas também temos muitas do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas e Curitiba. 70% têm entre 25 e 44 anos. A maioria decide empreender por necessidade: foram dispensadas do mercado de trabalho por alguma relação com a maternidade, seja ela a demissão após a licença maternidade ou por falta de perspectiva de ascensão profissional mesmo.”

Quer empreender? Estude!

Para quem está dando os primeiros passos rumo ao empreendedorismo, Camila Silva orienta: “Estuda, gatinha. Que as mulheres que querem empreender, que querem crescer mesmo, invistam em bons cursos e estudem o negócio, o mercado e também elas mesmas. Ao estudar o negócio, elas vão se apropriar dos processos e estratégias para fazê-lo crescer. Ao estudar o mercado, perceberão se tais estratégias realmente respondem a uma demanda efetiva de mercado. Existe um mar de negócios que podem ser criados e que têm uma demanda incrível. O planeta está demandando muitas soluções sustentáveis, por exemplo. No campo da tecnologia também existem possibilidades infinitas que podem melhorar a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, fazer dinheiro. Isso sem falar nos negócios sociais, né? Mais da metade do Brasil não tem saneamento básico, por exemplo. E ainda não temos uma iniciativa que se proponha a resolver esta questão. Porém, ao não estudar o mercado, as pessoas tendem a investir em negócios já saturados. E, ao estudar a si mesmas, elas vão perceber o quanto o comportamento pode nos limitar sem que percebamos”, completa.




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