Mais do que uma marca de moda, em 2014, quando Rafael Felsemburg, hoje com 33 anos, decidiu largar tudo para dar um novo rumo à sua vida, ele queria viver um propósito que pudesse causar impacto. Pai de primeira viagem, o nascimento de seu filho foi fundamental para sua escolha. Mas, colocar em prática seu empreendimento – a Recikle – não seria e não foi nada fácil. O empreendedor, entre outras coisas, precisou engavetar o projeto por um tempo e também enfrentou a depressão.
Hoje, Rafael toca a empresa ao lado de Bárbara Paiva, de 25 anos, sua sócia desde 2017. O negócio está passando por uma reestruturação. O objetivo é melhorar questões como, por exemplo, a comunicação da marca para dar um significado ainda mais amplo ao projeto que tem tudo para crescer e se desenvolver. O retorno deve acontecer em breve, ainda este ano, mas antes, essa dupla assume com satisfação e compromisso a parceria para tornar a collab Moda Sem Crise e Recikle realidade.
A guinada na vida
“Eu estava infeliz com o trabalho que eu tinha. E essa infelicidade apareceu num nível muito maior quando minha ex-mulher e eu ficamos grávidos do meu filho. Então, esse foi um marco na minha vida. Entrei em depressão. Questionando meu objetivo de vida. Percebi que eu não fazia ideia de qual era meu objetivo real de vida. Fiquei questionando o que eu ia ensinar pro meu filho. Percebi também que meu trabalho era grande parte da minha vida. E decidi mudar isso”, relembrou Rafael Felsemburg que na época atuava como profissional de TI e trabalhava na gestão de projetos de tecnologia em uma instituição financeira.
A solução para a guinada que queria ver acontecer, Rafael encontrou na moda. Curioso deu início a uma série de pesquisas para descobrir oportunidades de negócios baseados em suas aspirações. Soube que poderia investir em estamparia. Todo o planejamento para tirar do papel a marca, aconteceu na companhia do amigo Raphael Silva. “O Rapha é bem importante na minha história. Quando decidi pensar num novo projeto, ele topou e nasceu a Recikle.”
Já no início de 2015, com pouco tempo de atividade, Rafael precisou recalcular a rota. “O primeiro ano foi bastante interessante. Minha vida mudou completamente. Quando abri de fato a empresa, com CNPJ bonitinho, o Rapha já tinha saído, foi seguir por outro caminho, e a nossa amizade também foi pro saco temporariamente. Ficamos um tempo sem conversar. Meu casamento acabou e meu filho foi morar longe e isso me abalou muito. Meu filho foi a motivação para criar algo diferente. E junto com isso veio o problema financeiro.” A alternativa para se reerguer nada tinha a ver com a Recikle. Rafael abriu uma agência de publicidade e a marca ficou de canto por praticamente um ano, entre meados de 2015 e meados de 2016.
Reestruturado financeiramente, ainda em 2016, Rafael Felsemburg deixou então a agência de publicidade para retomar a Recikle – porque nunca deixou de acreditar no projeto. A confirmação do quanto sua ideia era boa veio com o terceiro lugar em um pitch do Banco Challenge. Com as considerações finais, Rafael reviu seu plano de negócios e uma semana depois, após reajustá-lo conquistou a primeira colocação em uma banca de uma outra aceleradora de empresas de impacto – o Choice Up da Artemísia. “Foi UAUUU. Sai super motivado disso. Coloquei a empresa para funcionar.
O retorno
O ano de 2017 já dava indícios de uma nova Recikle. Entre as novidades, a volta de Raphael Silva que ficou por algum tempo e saiu do projeto. E a chegada de Bárbara Paiva que assumiu o posto de sócia-proprietária da empresa. Em 2018, os sócios Rafael Felsemburg e Bárbara estão prestes a ver a nova Recikle se consolidar.
“Uma amiga estava abrindo uma agência de Marketing e ela precisava de cases. E aí a gente topou participar. Ela mexeu nas mídias. Foi um trabalho bem simples. Mas que deu um super resultado. Depois disso identificamos que não dava para ficar assim. E isso foi em janeiro passado. E aconteceu de participarmos de uma feira e o Rafael acabou conhecendo uma pessoa que oferecia serviço de mentoria. E a gente que outras pessoas têm interesse, também acreditam, mas identificamos mil coisas para melhorar”, contou Bárbara.
A reestruturação pela qual os sócios submeterem a empresa inclui, por exemplo, melhorar a comunicação e aumentar a equipe. Ampliar a oferta de produtos também está nos planos, mas a longo prazo. A ideia é oferecer além de camisetas, peças como, por exemplo, vestidos, calças, saias e jaquetas.
“O Rafael tomou essa escolha lá atrás de vender camisetas. E hoje é o que a gente tem. Então tem que vender camisetas para produzir outros produtos. Nós somos de moda e a gente já entendeu isso”, explicou ela que é formada em engenharia de produção e deixou o estágio em uma multinacional de saúde para investir no sonho. “Eu estava um pouco infeliz porque o que eu fazia não batia nada com o que queria fazer da vida e secretamente sempre quis trabalhar com moda.”
Quem faz as roupas da Recikle?
Criada com base no propósito e alinhada com questões sustentáveis, a Recikle além de colaborar com a causa ambiental e trabalhar somente com tecidos ecológicos, tem como premissa dar a devida importância às pessoas envolvidas no processo de produção de suas peças. Os sócios investem na valorização das costureiras e o desenvolvimento das camisetas acontece em ateliês de comunidades carentes da Grande São Paulo.
Rafael Felsemburg conta que a dupla é responsável pela criação dos produtos. Depois disso, começa então a pesquisa pelo tecido e a busca pelo fornecedor que precisa ter valores semelhantes com a empresa. “Não só no que diz respeito ao tecido, mas a planta da empresa, tem que ter certificação de limpeza e tratamento da água, resíduos, tem todo um trabalho de pesquisa”, conta.
Os protótipos e a modelagem das peças acontece nos ateliês com os quais trabalham. Atualmente são dois. “Um fica em Santo André em uma comunidade. É o maior e o que vai produzir as camisetas do Moda Sem Crise. O outro fica no Parque Fernanda, localizado depois do Capão Redondo, zona Sul de São Paulo”, comenta Bárbara Paiva. “E a gente deixa elas utilizarem a expertise delas para dar forma e ter a menor quantidade de resíduos.
Para estampar as peças, Rafael e Bárbara normalmente colocam a mão na massa. “A maioria das peças eu e a Bárbara estampamos. Isso para o nosso varejo. E quando é atacado, quase sempre são quantidades maiores, neste caso a gente manda para parceiros estampar. Hoje são dois, um também no Parque Fernanda e outro em Mogi das Cruzes.”
O controle de qualidade, empacotamento e entrega das peças também fica por conta dos sócios.
Tecidos ecológicos
Quando deu início aos trabalhos da Recikle, as pesquisas levou Rafael Felsemburg apostar no tecido de PET reciclado, que aliás é o carro-chefe da empresa. Mas, a empresa emprega outros tipos de tecidos em sua produção.
“A gente utiliza prioritariamente esse tecido de PET e isso foi uma decisão porque quando comecei a pesquisar e conhecer os tecidos de baixo impacto, lá em 2014, comecei a pesquisar vários tecidos, que na época tinha produção no Brasil e consegui encontrar vários estudos que não eram brasileiros, estudos de fora, de faculdades e coisa e tal, de institutos ambientalistas, mostrando quais os tecidos com menor pegada ambiental e o de PET e de algodão orgânico eram os dois primeiros tecidos com melhor pegada. O principal do PET de não utilizar tanta água. Como o PET não precisa criar matéria-prima é só o reaproveitamento, no ciclo se tem uma otimização grande de reaproveito de água.”
Mas, Bárbara Paiva explica que além do tecido PET reciclado, a Recikle soma outras opções. “A gente tem vários outros tecidos que oferece para clientes no atacado, que é o próprio algodão orgânico que vai ser seu caso [referindo-se as camisetas do Moda], de PET mesmo, de algodão desfibrado (reciclado, quando ele é 100%) a gente tem o moletom, a jeans dele, de látex da floresta – tecido da floresta, a gente tem polamida biodegradável, dryfit.”
Bárbara afirma ainda que todos os resíduos são também aproveitados.
A parceria Moda Sem Crise e Recikle
Mesmo reestruturando a empresa, a Recikle topou apoiar o Moda Sem Crise. Sem recursos financeiros para sua sustentabilidade, a continuidade da plataforma pode estar ameaçada. “Para mim se tornou uma coisa bem pessoal. Acredito muito no Moda. Realmente a gente enxerga algo que tem futuro e que você [Marcela] ama muito. E pelo lado da Recikle precisamos melhorar a comunicação. E depois de refletir que é o que a gente precisa, vimos aí uma parceria importante para a empresa”, explicou Bárbara Paiva. “Compartilhamos dos mesmos valores. A conscientização é também um dos pilares da Recikle e o Moda pode nos ajudar com conteúdo e informação. E acreditamos que podemos ajudar com a questão da monetização, com a entrega final de produtos para que o negócio possa seguir seu caminho”, completou Rafael Felsemburg.