15 • outubro • 2016

Para onde vamos, mulheres?


FATOS E DEVANEIOS – De verdade, amo ser mulher. Sou do tipo que lê sobre o sagrado feminino, que acredita na mulher selvagem como arquétipo da psique feminina e que considera a mulher um ser especial no mundo.

Essa visão com frequência é considerada puramente romântica e contrária ao caminho para empoderamento e à causa feminista.

Está aí um grande problema. Vivemos um tempo de difícil compreensão das possibilidades de ligações entre fatores diversos, independente do tema. Também não tem havido entendimento de que um aspecto X não necessariamente anula um fato Y e vice-versa.

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Foto: Pixabay

Um dia desses, por exemplo, assisti vídeos e li alguns textos que falavam sobre a relação do ativismo feminista com o ateísmo. Muitas militantes não consideram ser possível uma mulher defender verdadeiramente o empoderamento de seu gênero e, ao mesmo tempo, acreditar em uma divindade ou no universo astral.

Creio que essa relação está atrelada à conduta patriarcal adotada por algumas religiões. Entretanto, a fé em uma divindade ou na existência de um universo paralelo não depende de doutrinas religiosas, trata-se de uma questão de espiritualidade.

Esse ponto de vista não pode ser considerado sinônimo de passividade sobre as constantes violações dos meus direitos enquanto mulher, tão pouco de alienação quanto à violência velada a qual somos expostas todos os dias, nas situações mais banais e corriqueiras – como andar no transporte público, sair com os amigos ou na atuação no ambiente de trabalho.

Sou uma mulher de 29 anos. Minha mãe me criou praticamente sozinha. Morei em periferia. Estudei em escola pública. Comecei a trabalhar formalmente aos 16 anos (antes disso, fui babá, balconista e vendi crochê). Casei-me aos 20. Formei-me em Jornalismo aos 22. Iniciei uma pós-graduação aos 25. Divorciei-me aos 26.

Conheço as dores e as delícias de ser uma mulher a independente.

Conheço o sabor de ter nas mãos um diploma universitário em uma sociedade que segrega e oprime.

Sei o que é ser dona de casa.

Provei do preconceito velado com o qual são tratadas as mulheres divorciadas.

Provei do tratamento diferenciado que entrevistados homens ofereciam de acordo com a minha aparência – quando lhes parecia atraente, atendiam cordialmente e cheios de segundas intenções, quando não, precisavam ser intimidados pelo olho no olho e o crachá da repórter que vos falava.

Mesmo assim, já fui tratada com desdém por militantes que se diziam feministas e protestavam sem sutiã em praça pública. Por quê? Não sei. Apenas me apresentei como jornalista e pedi entrevista sobre o caso de duas ativistas presas após uma manifestação na cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Para mim, é muito claro que eu sofri preconceito por parte de mulheres que diziam lutar contra o preconceito. Triste.

Vivemos semeando a desunião do nosso gênero. Não há empoderamento sem união. Não há combate à violação de direitos com discriminação e acepção de pessoas.

Esse lamentável quadro é tão grave e generalizado que alguns dos “hits” que bombaram nas rádios recentemente diziam: beijinho no ombro só pras invejosas de plantão”; “bateu de frente é só tiro, porrada e bomba”; “expulsam as invejosas”, “se não tá mais a vontade sai por onde entrei”.

Mulherada, que mundo estamos criando para nós? Como nos empoderarmos se muitas vezes guerreamos entre nós?

Creio que para todas as injustiças sociais não há saída se não o caminho do amor. Parece tão clichê, não? Mas é fato.

Refiro-me ao amor no seu sentido mais integral, de compaixão e solidariedade. Sem nos enxergarmos umas nas outras, sem sentirmos as dores umas das outras e sem vibrarmos com as conquistas umas das outras, jamais alcançaremos o pleno empoderamento.

+ Deisy é autora do blog Diário de uma Bellydancer, em que publica reportagens, entrevistas e crônicas sobre o universo da dança do ventre, arte para a qual tem se dedicado há dois anos e com muita paixão.

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Deisy de Assis

Deisy de Assis

>>> Formada em jornalismo, Deisy de Assis foi repórter por cinco anos, atuando principalmente nas editorias de cidade, saúde e variedades. A maior parte desse período se dedicou ao universo Pet com foco em sensibilização para a guarda responsável de pequenos animais. Atualmente é redatora e atua justamente neste segmento. Deisy mantém também o blog "Diário de uma BellyDancer", onde publica reportagens, entrevistas e crônicas sobre a Dança do Ventre, arte para a qual se dedica há três anos. Aqui no Moda Sem Crise publicou em 2017 a coluna (hoje desativada) Fatos e Devaneios. Deisy é uma das principais incentivadora do Moda. Fale com a Deisy | E-mail: contato@diariodeumabellydancer.com



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Uma resposta para "Para onde vamos, mulheres?"

Temos um tempo para tudo? — Moda Sem Crise - 17, novembro 2016 às (00:22)

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