12 • julho • 2018

Estudantes criam consultoria de moda para pessoas com deficiência visual


Como é consumir moda se você possui uma deficiência visual? Essa foi a pergunta que mobilizou as estudantes de Design de Moda, Amanda Gotado e Camila Dinapoli, do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, a elaborarem etiquetas em braille uma consultoria de estilo para as pessoas com deficiência visual, como Trabalho de Conclusão de Curso.

Acesso à informação, treinamento e consultoria de imagem, o projeto englobou essas três linhas de atuação e foi caracterizado pelas estudantes como um serviço de moda inclusiva, por dar acesso a um público ainda invisível ao universo visual da moda.

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Camila Dinapoli e Amanda Gotado apresentaram em 20 de junho deste ano – Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista concedida à Isa Meirelles, relações públicas que atua como consultora em Comunicação Inclusiva com Ênfase em Design Universal de Moda e cedida gentilmente para o Moda Sem Crise, as estudantes relatam como foi o processo de criação da consultoria; os principais obstáculos encontrados pelas pessoas com deficiência visual na moda; a recepção do tema no ambiente acadêmico e também opinam sobre o papel de iniciativas como a delas para a inclusão das pessoas com deficiência no Brasil:

Isa Meirelles: Por que a escolha de trabalhar com as pessoas com deficiência visual? Como funciona o serviço proposto?

Amanda Gotado: Nós sempre tivemos a curiosidade de saber como seria uma pessoa que não enxerga consumindo a moda, sendo ela sempre considerada tão visual, e não apenas isso, é um conjunto de opiniões, maneiras de viver e agir, por isso mesmo deve abranger todos os tipos de pessoas. Foi a partir daí que começamos a nossa pesquisa sobre as pessoas com deficiência visual e como a moda atua sobre isso, quais seriam as reais necessidades enfrentadas por elas e conforme as respostas nós criamos o nosso serviço.

Camila Dinapoli: As principais dificuldades relatadas por elas [pessoas com deficiência visual] foram, a falta de acessibilidade dentro das lojas, a dificuldade de interpretação das peças, falta de profissionais aptos e a necessidade de ir acompanhado no momento da compra. Pensando nisso, criamos um serviço que fosse capaz de auxiliar por meio de tags com o QR Code contendo as informações sobre a peça (cor, tamanho, detalhes e lavagem), e desse recurso, já conseguiríamos oferecer acessibilidade e facilitar o consumo da moda, sem necessidade de eles irem acompanhados, trazendo assim mais autonomia. O código poderá ser lido por um aplicativo gratuito já existente chamado QR Code Reader disponível para Android e IOS, que lê os códigos através da câmera do próprio celular. Também planejamos um treinamento para os atendentes da loja e uma consultoria de estilo, que poderia ser de personal shopper ou para ajudar na organização dos armários pois nossas tags funcionam em casa também. Na consultoria iremos trabalhar também a autoestima, ajudando as pessoas com deficiência visual a conhecerem melhor seu estilo pessoal e a imagem que pretendem passar através da moda.

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Etiqueta em braille desenvolvida pelas estudantes – Foto: Arquivo Pessoal

IM: O que significa Design de Moda Inclusiva para vocês? O que as motivaram a construir esse serviço que tem como mote esse conceito?

AG: A moda inclusiva significa reconhecer que todas as pessoas sem distinção pertencem a moda, é trazer acessibilidade e autonomia para esse público, pois não é ele que precisa se adaptar a moda e sim a moda que precisa se adaptar às suas necessidades. A moda inclusiva visa atingir a todas as minorias, não apenas pessoas com deficiência e sim todo grupo, que de alguma forma não é representado.

CD: A motivação de construir esse trabalho foi perceber que muitas vezes esse público é ignorado e que realmente existem poucas empresas que abordam o tema de inclusão dentro dos estabelecimentos. A moda inclusiva ainda é um mercado pouco explorado, porém cheio de oportunidades, onde o investimento social vai muito além do financeiro.

IM: De que maneira vocês acreditam que serviços como o de vocês podem contribuir para a inclusão das pessoas com deficiência visual no Brasil?

DC: Nós acreditamos que as pessoas devem começar dando os primeiros passos para que esse tema tenha mais visibilidade. Serviços como o nosso, mostram que a acessibilidade é importante e essencial para que todos tenham acesso à moda da mesma forma, além de representar a pessoa com deficiência visual como consumidor real e, assim, contribuir para inclusão desse público, fazendo ele se sentir representado pela moda.

IM: Pensando no processo de criação da Consultoria SENSE como TCC, quais foram os maiores desafios encontrados pelo caminho?

AG: Durante os processos os maiores desafios foram entender quais seriam as reais dificuldades e fazer um trabalho que realmente resolvesse esses problemas, sem criar algo que excluísse, nossa intenção sempre foi de incluir. Também nos deparamos com algumas pessoas que não se interessaram tanto pelo projeto por não entenderem e não terem vontade de conhecer.

IM: Como foi a recepção da ideia do trabalho pelo orientador e pela faculdade? Vocês sentiram dificuldade de encontrar referências sobre o assunto no meio acadêmico?

AG: Nosso orientador sempre nos apoiou muito em relação a tudo, apesar dele não entender muito da área de moda inclusiva, sempre gostou do nosso tema. Em relação à faculdade, sentimos que não recebemos tanto valor e visibilidade como esperávamos, acreditamos que temas como esse devem ser abordados com mais seriedade para que as pessoas possam entender a importância da inclusão na moda e socialmente.

CD: Nas referências tivemos um pouco mais de dificuldade sim, mas como fizemos o curso de moda inclusiva no Memorial da Inclusão, conseguimos ter bastante base para o trabalho, pois o curso foi ministrado por profissionais extremamente competentes da área de moda inclusiva.

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Camila e Amanda oferecem serviços de consultoria de moda para pessoas com deficiência – Foto: Arquivo Pessoal

Saiba mais: Sense

 Isadora Meirelles é Relações Públicas e atua como consultora em Comunicação Inclusiva com Ênfase em Design Universal de Moda. Seu propósito de vida e norteador de atuação profissional é o fim da invisibilidade das pessoas com deficiência (PCD) na sociedade por meio da comunicação.

 




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