22 • março • 2017

Compra amarga


MESA CORRIDA – Eu escolhia jiló na banca do mercadinho quando duas mulheres de uns 70 anos pararam ao meu lado para comprar abobrinhas. Pela conversa, parecia que se encontraram ali por acaso, depois de um longo tempo sem se verem. E diante dos legumes, resolveram colocar o papo em dia. Durante os mais ou menos quatro minutos em que permaneci por perto, o assunto só envolvia infortúnios: a morte do marido da fulana, o casamento fracassado do sicrano, a doença de uma delas.

Juro que eu tentava me concentrar nos jilós, mas o tom dramático da conversa me atraía. Não tinha riqueza de detalhes nas histórias, só um bombardeio superficial de tristezas. Eu, que passo grande parte do dia vendo a felicidade da minha geração (e das mais novas) no Facebook, de repente estava envolta pelas amarguras de duas senhoras.

Como já disse, a experiência não durou muito tempo. Elas partiram para as frutas do outro lado do estabelecimento e eu me encaminhei para o caixa com a minha bacia de jilós. Paguei com uma nota de dez reais, sem dar conta do valor total da compra, muito menos do troco que recebi. Porque naquele momento eu me ocupava procurando a paz que aquelas duas senhoras tinham acabado de me arrancar. Buscando de volta a sensação confortável – ainda que ao mesmo tempo seja tão enlouquecedora -, de que o mundo todo está alegre e afortunado.

Como se este mesmo mundo se resumisse às postagens felizes de viagens, festas, banquetes e amores das redes sociais (onde até a morte e as doenças parecem menos dolorosas através da tela). Como se o amargo da vida se limitasse ao do jiló.

Fígado com jiló

compra-amarga

Foto: Suellen Andrade

Ingredientes:

400g de fígado de boi – 150g de jiló – 1 cebola – ½ pimenta dedo de moça – cebolinha – Sal – Óleo

Modo de Preparo:

Corte o fígado em tiras e tempere com sal. Coloque o óleo em uma panela, acrescente o fígado e os jilós cortados em quatro. Deixe cozinhar por aproximadamente cinco minutos. Junte a cebola cortada em rodelas e a pimenta picadinha. Deixe até completar o cozimento. Finalize com cebolinha picada.

+ Suellen é autora do blog “Encontrei Babette“ onde publica crônicas recheadas de conceitos gastronômicos e experiências gustativas com uma boa pitada de poesia.

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Suellen Andrade

Suellen Andrade

>>> Mineira, amante de bolo, café e um dedo de prosa. Jornalista e gastrônoma, ambos por formação e paixão. Suellen Andrade trabalhou como repórter e editora de TV e jornal impresso. Também atuou na área de assessoria de comunicação até descobrir seu lugar na cozinha. Ao lado da mãe, doceira e inspiração, comandou a Feito de Açúcar, ateliê de bolos e doces, em Juiz de Fora (MG). E em São Paulo se dedicou à Padoca do Maní. Autora do blog “Encontrei Babette”, Suellen foi também colaboradora do Moda Sem Crise, e em 2017, assinou a coluna “Mesa Corrida”.



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