08 • março • 2017

Braço de merendeira


Posávamos para uma foto em grupo, quando uma das amigas disse firme para quem fotografava: “cuidado para eu não aparecer com braço de merendeira”. Mais que depressa, uma outra reforçou: “ah, é! Por favor!”. A partir daí, os segundos do clique viraram minutos, até que o display da câmera digital apresentasse uma imagem digna de ser postada na rede, ou seja, moças sem braços de merendeiras. “Braço de merendeira?”, era a primeira vez que eu escutava a expressão e minha pergunta teve resposta sussurrada entre os dentes: “é um braço gordo”.

Olhei pra mim mesma e pensei (só pensei) que eu não poderia participar daquela fotografia. Depois, terminados os minutos de constrangimento diante da câmera, tive vontade de entrar num moletom bem largo para esconder meus braços roliços. Ok, minha reação foi um equívoco, sucedendo uma série deles dentro de uma mesma cena. Incluindo a insistente preocupação com os padrões midiáticos e a necessidade de parecermos sempre tão engessadamente belos.

Mas, eu diria que a vítima do primeiro equívoco dessa história foi a merendeira. A expressão ‘braço de merendeira’, um tanto pejorativa, se refere à quem faz merendas nas escolas e dá conta de uma severa estereotipia da profissional: o braço grande, gordo, roliço – leia-se feio, o que não está de acordo. Característica, ‘certamente’, obtida pelo movimento repetitivo e duradouro de mexer a colher nas panelas. Entretanto, nas escolas em que eu estudei tinha merendeira de todo tipo, toda cor, altura, idade, e grossura de braço.

Sob a legenda "We can do it", este poster criado por J. Howard Miller, em 1943, invoca a força da mulher trabalhadora durante a Segubda Guerra Mundial - Imagem: Pixabay

Sob a legenda “We can do it”, este poster criado por J. Howard Miller, em 1943, invoca a força da mulher trabalhadora durante a Segunda Guerra Mundial – Imagem: Pixabay

Me lembro de uma em particular, a dona Imaculada, de quem me recordo mais das sardas no rosto do que da espessura dos braços. Mulher de uns 40 anos, brava. Sempre vestia blusas estampadas e quando era dia de arroz doce, avisava: “hoje não pode repetir”.

Junto das outras quatro ou cinco merendeiras, ela chegava bem cedo, de modo que dez minutos antes das sete da manhã (quando o sinal tocava para o início da primeira aula) já era servido leite quente e bolachas a quem chegasse. A essa hora, na bancada, já estavam separados os legumes, carnes ou qualquer outro ingrediente que seria utilizado no cardápio do recreio. Alunos em sala, os caldeirões já iam para o fogo.

Às nove e trinta, a fila se formava na porta da cantina e tomava o pátio externo. Eram centenas de alunos. A principal refeição da manhã era servida pelas mesmas mãos de quem tinha preparado a comida. Nas panelas, os caldos ainda fumegavam. Dona Imaculada sempre nos prendia pelos olhos, enquanto enchia o prato de alumínio, dizendo: “só pegue o que vai comer. Não é pra desperdiçar”, o tom de voz misturava autoridade e afeto. Em meia hora, alunos alimentados de volta às salas, as merendeiras começavam a lavagem da louça suja.

Ao meio dia e meia, na saída para a casa, qualquer olhar atravessado para a cozinha flagrava ainda o término da limpeza do chão e paredes. Num canto, dona Imaculada ao lado de outra companheira mais velha, segurava nas mãos uma caneta e um bloco de anotações, já se preparando para a jornada do dia seguinte.

É, me parece bastante injusto que ‘braços de merendeira’ numa foto se traduza em um demérito. Me inspira mais trabalho e dignidade.

Arroz doce com caramelo e flor de sal

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Calda de caramelo

Ingredientes:

2 xícaras de açúcar – ½ xícara de água – 200g de creme de leite

Modo de preparo:

Em uma panela, dissolva o açúcar na água. Leve ao fogo médio e deixe cozinhar até adquirir a cor de caramelo claro. Reduza o fogo, e adicione o creme de leite aos poucos. Deixe cozinhar por mais 2 minutos. Desligue o fogo e reserve.

Arroz doce

Ingredientes:

100g de arroz arbóreo – 800ml de leite – 80g de açúcar – 3 cravos da índia – 2 paus de canela

Modo de preparo:

Lave o arroz e escorra. Cozinhe o arroz com o leite, o açúcar, o cravo e a canela em fogo alto, mexendo sem parar. Quando começar a ferver, baixe o fogo e deixe cozinhar por 20 minutos, mexendo de vez em quando. Coloque em um recipiente de sua preferência e sirva com a calda de caramelo e flor de sal.

 

+ Suellen é autora do blog “Encontrei Babette“ onde publica crônicas recheadas de conceitos gastronômicos e experiências gustativas com uma boa pitada de poesia.

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Suellen Andrade

Suellen Andrade

>>> Mineira, amante de bolo, café e um dedo de prosa. Jornalista e gastrônoma, ambos por formação e paixão. Suellen Andrade trabalhou como repórter e editora de TV e jornal impresso. Também atuou na área de assessoria de comunicação até descobrir seu lugar na cozinha. Ao lado da mãe, doceira e inspiração, comandou a Feito de Açúcar, ateliê de bolos e doces, em Juiz de Fora (MG). E em São Paulo se dedicou à Padoca do Maní. Autora do blog “Encontrei Babette”, Suellen foi também colaboradora do Moda Sem Crise, e em 2017, assinou a coluna “Mesa Corrida”.



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