15 • outubro • 2018

Que tal entrar para o movimento que propõe troca de produtos, serviços e experiências?


[Por Marcela Fonseca e Cauê Anjos]

A Economia Colaborativa propõe dividir para somar. E o escambo de produtos, serviços e experiências faz parte dessa lógica. Alternativa que no ano de 2016 fez a publicitária Jéssica da Silva, 22 anos, mudar de vez sua forma de se relacionar com o consumo. Após ver o anúncio de um evento no Facebook sobre a Virada Sustentável de São Paulo, a jovem se tornou adepta do movimento que promove a troca de roupas entre desconhecidos. Acontecimento que também a fez criar um projeto e compartilhar em suas redes sociais experiências relacionadas ao consumo sustentável.

“Eu sempre amei moda, sempre comprei e ganhei bastante roupa. Mas sem muita consciência do que era realmente necessário, e até por algumas mudanças no meu estilo, acabei ficando com um armário mega lotado e enjoando de algumas peças. Algumas acabei nunca usando. Quando vi no Facebook o evento de trocas, achei a ideia maravilhosa porque eu poderia me desfazer do que não fazia mais sentido para mim e ainda ter peças novas. E tudo sem gastar mais, achei incrível”, disse a publicitária que sempre praticou o desapego, no entanto, viu a prática nos últimos anos se tornar uma questão profunda e responsável. “Eu sempre troquei peças entre a família – de primas mais velhas para as mais novas – então desapegar de itens e ganhar itens que eram de outras pessoas, já era uma realidade de alguma forma”, comentou.

Mas, Jéssica explica que foi quando começou participar de feiras de trocas, que o envolvimento com o consumo consciente abriu seus olhos para a transformação que viria a seguir. Com isso, a publicitária começou inclusive um projeto em suas redes sociais – Instagram e Facebook – onde  compartilha todas suas experiências.

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“A felicidade de quem se jogou em todos os blocos que pode. E a ‘brusinha’ que na verdade era um quimono garimpado na feira de trocas, mas que com uma amarração virou essa ‘brusinha’ aí pra se jogar no bloco” – Publicação de Jéssica da Silva em suas redes sociais – Foto: Arquivo Pessoal

“Comecei um projeto pessoal. Decidi passar um ano só comprando em brechós e trocando em feiras e isso tem sido incrível. Compartilho as feiras que vou, as peças que troco por lá, como funciona cada feira. Além disso, sempre que vou nessas feiras acabo levando alguém comigo e convidando amigos e familiares para que conheçam. Acho que quanto mais você participa e pesquisa sobre moda sustentável e formas de consumo, mais você quer mudar vários aspectos da sua vida. Você começa a questionar quanto, como e por quê consome não só as roupas, mas todas as outras coisas. Como, por exemplo, do que e como você se alimenta. E isso vai refletindo e se estendendo a vários aspectos da sua vida”, afirma.

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>> A publicitária Jéssica da Silva recentemente promoveu seu primeiro bazar com desapegos – que reuniu amigos e familiares – e escolheu vestir esse macacão garimpado em uma feira de trocas – Foto: Arquivo Pessoal

A publicitária faz parte de um nicho de consumidores que está cada vez mais preocupado com a produção e o consumo de peças. Estima-se que cerca de 80 bilhões de peças de roupas são produzidas por ano em todo o mundo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), só no Brasil, em 2017, a produção média de confecção chegou a 5,9 bilhões de peças, somando a esses dados, peças do vestuário, meias, acessórios, cama, mesa e banho. A escassez de recursos aliado ao consumo desenfreado é preocupante. Conscientes disso, esse mesmo nicho questiona quem faz suas roupas, ou ainda, para onde vão todas as peças tão rapidamente descartadas.

Comum há tempos em países da Europa, as feiras de trocas se tornam realidade em algumas cidades brasileiras. Uma importante alternativa para um consumo mais consciente. Vale destacar que a maioria desses eventos de trocas que conhecemos, são organizados por mulheres que encontram no escambo um meio de vestir a si mesma e a quem mais se interessar de forma consciente.

Tem alguma peça dando bobeira em seu armário? Quer trocá-la? Está em busca de um serviço ou experiência, mas não pode investir financeiramente? Experimente o escambo. Fomente a troca.

Canto do Escambo: O projeto, de Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais, existe desde 2010 e o objetivo é propagar a questão do consumo consciente e a economia colaborativa com foco na troca ao invés das compras. A feira de troca de roupa acontece pelo menos uma vez por mês. E a plataforma também realiza trocas por meio das redes sociais – Facebook e Instagram. Para participar das trocas presenciais é bem fácil, basta levar para as feiras que não serve ou não usa mais, desde que em bom estado para negociar com outros participantes.

Trocaí: Projeto de economia colaborativa, o Trocaí propõe uma reflexão sobre hábitos de consumo e sobre o consequente impacto no Planeta. A ideia começou entre amigos que se reuniam para vender ou trocar roupas que estavam parados no armário. Amigas e fundadoras do Tracaí, Damaris Adamucci e Giovana Cuginotti, decidiram profissionalizar e transformar a experiência em um projeto maior que valorizasse apenas a troca, por meio de uma moeda social e que a troca fosse possível para maior número de pessoas em localização diferentes e não apenas roupas, mas também objetos. Trocaí começou em 2015 e desde então, o projeto já conquistou diversos públicos e segmentos e hoje, leva seu trabalho para eventos, empresas, escolas e universidades. O objetivo do projeto é impactar as pessoas e fazê-las repensar suas escolhas, a encontrar uma nova forma de consumir – menos e com mais consciência e que gere um menor impacto ambiental com esses novos hábitos. Atualmente, realiza diversas atividades, entre feiras de trocas; palestras e cursos sobre consumo consciente; oficinas de moda sustentável e oficinas para crianças. Em três anos de existência, o Trocaí já realizou dez feiras de trocas, que somaram mais de três mil pessoas envolvidas, seis mil trocas e cerca de 700kg de roupas, objetos, brinquedos e livros doados para instituições de caridade. Os eventos acontecem sempre em São Paulo. Informações nas redes sociais Facebook e Instagram.

Roupa Livre – Disponível gratuitamente para celulares com sistema iOS e Android, o aplicativo Roupa Livre – iniciativa do Roupa Livre de Mari Pelli –  permite que os cadastrados combinem trocas de roupas com pessoas que estejam próximas. O app é bastante simples. Após baixar e realizar o cadastramento, os usuários podem garimpar peças. Se não curtir é só clicar no X para seguir para a próxima oferta. Mas, se gostar da peça basta clicar no ícone “coração”, e torcer pelo “match”. Havendo reciprocidade entre os usuários, o aplicativo abre uma janela de dialogo para que vocês conversem sobre a troca. O aplicativo Roupa Livre é fruto do apoio de uma rede de mais de 300 colaboradores que toparam investir na ideia e entraram no financiamento coletivo. A campanha de “tudo ou nada” tinha como meta arrecadar, até 17 de dezembro de 2016, o valor de R$ 23.564. Mas com a contribuição de 305 pessoas, o projeto arrecadou R$ 25.736. Outras informações no site Roupa Livre, Facebook ou Instagram.

eXcambo: Vale ficar de olho também na agenda do Excambo que propõe trocas de roupas, bate-papos, workshops, palestras e dicas sobre moda e sustentabilidade. O projeto é de Santos, Litoral paulista. Mas os eventos realizados por Aline Vieira e Lais Pennas também são realizados em outras cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. O processo todo de troca de roupas não envolve grandes complicações. As peças separadas e sem uso são entregues para a equipe do eXcambo antes ou no dia do evento viram moeda de troca para a aquisição de outras peças – sendo que na coleta antecipada é ilimitado o número de peças, já no dia do evento só são recebidas dez peças por pessoa. Confira outras informações no site eXcambo, Facebook e Instagram.

Cineclube Socioambiental – As feiras de trocas do Cineclube acontecem mensalmente na Capital paulista. O projeto tem como objetivo promover um espaço de reflexão sobre o consumo, inspirando o desapego e, portanto, a troca.  Localizado na Vila Madalena, o espaço é totalmente dedicado à difusão da consciência socioambiental e propõe exibição de vídeos e diálogos sobre o mundo atual, seus desafios e complexidades. A feira de trocas envolve livros, roupas, CD’s, DVD’s, aparelhos eletrônicos, brinquedos, objetos de decoração, tudo em bom estado. Até mesmo alimentos saudáveis, plantas, além de serviços e saberes podem ser trocados e divulgados. Saiba mais no site Cineclube Socioambiental, Facebook e Instagram.

DescolaAí – Criado em 2011, o DescolaAí é um site que promove o encontro entre um objeto que estava sem uso e a necessidade de alguém. Além da troca é possível comprar e vender produtos e serviços por meio da plataforma. Para fazer parte da comunidade é preciso fazer um cadastro. Site DescolaAí e Facebook.

Projeto Gaveta: O projeto Gaveta surgiu em 2013 a partir da iniciativa das amigas Giovanna Nader e Raquel Vitti Lino, que decidiram apostar no conceito de troca de roupas com o propósito de colocar para circular peças de roupas de uma rede de participantes que trocariam, entre si, aquilo que não usavam mais. A princípio o desejo era envolver as amigas e amigas de amigas, mas o Gaveta chamou a atenção de pessoas desconhecidas também. “Em um mês recebemos roupas de 75 pessoas que doaram mais de 1.600 peças. Ficamos assustadas porque a gente tinha divulgado pelo Facebook e só. Ficamos impactadas”, afirma Raquel. O Gaveta já realizou eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para acompanhar os acontecimentos do projeto fique de olho no site Projeto Gaveta, Facebook e Instagram.

Trocaderia: Iniciativa criada pra promover a troca de roupas e itens entre os participantes, o Trcadeira promove eventos que rolam quase todo mês com o objetivo de transformar o olhar sobre o próprio consumo para uma vida cada vez mais sustentável. Vale trocar todos os tipos de itens de vestuário, roupas e acessórios, como bolsas, cintos e sapatos, além de objetos, como, por exemplo, livros e games. Os eventos acontecem em diferentes partes de São Paulo. E a agenda fica disponível no Facebook e Instagram do projeto.

Tradr: Mais um aplicativo para dar “match”. Idealizado por Jéssica Behrens, o Tradr é um app de compra, troca e doação de objetos incubado em Harvard e está no ar desde fevereiro de 2015. O app roda gratuitamente para iOS e Android. E é ideal para quem adora moda e curte descobrir achados exclusivos ou simplesmente ama economia colaborativa. FacebookInstagram.

Tem Açúcar?: Se você já precisou emprestar um pouco de açúcar do vizinho vai entender bem essa plataforma que promove o compartilhamento de itens entre vizinhos. O Tem Açúcar? se define sendo bem mais que um site que facilita a vida de pessoas que moram próximas: é uma ferramenta que possibilita empréstimos de coisas em uma vizinhança. Além do site, a plataforma conta com um aplicativo disponível para iOS e Android. Outras informações no site Tem Açúcar? no Facebook e Instagram da marca.

Prática comum entre nossos ancestrais, o sistema de escambo por muito tempo financiou o consumo de gado, sal, açúcar, peças de metal, tecidos, entre outras coisas. Essa forma básica e original de consumir por meio da troca direta de mercadorias, perdeu espaço para o sistema econômico como o conhecemos. No entanto, o fortalecimento da economia criativa tem promovido significativas mudanças em todas as partes. Com o advento das redes sociais, contamos com outra realidade hoje bastante comum para quem quer trocar produtos, serviços e experiências são os grupos no Facebook. Comunidades onde os membros negociam diretamente os escambos. Com mais de 35 mil membros, o grupo Escambo tem diariamente posts onde são colocados à disposição produtos dos mais variados estilos. Mais um exemplo é o grupo Escambo de Luxo – Troca de Serviços e Talentos que reúne pouco mais de 11.200 membros, promovendo muitas trocas de serviços entre os inscritos.

Este conteúdo foi publicado originalmente dia 12 de março de 2018, mas teve sua data alterada, em 28 de dezembro de 2018, para que pudesse voltar pra home.




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