No meu processo de autoconhecimento e descoberta de novos caminhos, comecei a pensar em como o jornalismo influencia (e muito!), a indústria da moda.
A função do jornalista que trabalha nesse segmento, sempre foi falar sobre as tendências das próximas estações, ditar o que tínhamos que vestir/comprar, e com isso estimulando cada vez mais o consumo desenfreado.
Aquele jeans que você tem pendurado no armário, provavelmente percorreu não sei quantos mil quilômetros pelo mundo antes de ser seu. Isso sem considerar a viagem dos insumos que ele carrega como o algodão que sai do campo e segue para fiação, a lavagem e tingimento, os metais das mineradoras que vão para a indústria de botões e outros aviamentos, as etiquetas que se forem feitas de poliéster, saem dos campos de petróleo e passam por incansáveis processos até estampar o nome de uma grife e, se forem de couro (vixi!!), muitas toneladas de outros impactos socioambientais.
Quanto maior a aceleração e exploração do meio ambiente, maior a marca que deixamos no planeta e o uso abusivo de recursos naturais, o consumo exagerado e a quantidade de resíduos são os rastros que deixamos na natureza e não percebemos.
Nos últimos anos estamos percebendo um movimento inverso ao que estamos acostumados no mundo da moda. Passa a ter voz e muitos personagens, uma moda voltada para consciência, ética e sustentabilidade. O jornalista de moda não apenas fala de consumo, mas também aborda temas que nos fazem refletir. Pela primeira vez temos o poder da escolha, o saber de onde vem, como é feito, quem faz…
Veículos de comunicação (sites, blogs, revistas especializadas e colunas sobre o tema em publicações renomadas), começaram a surgir e com isso o acesso à informação ficou mais fácil, isso sem mencionar as redes sociais que agregou de forma avassaladora o meio. A moda começou a ser vista de outra forma e o consumo como uma forma de encarar o mundo, um estilo de vida…
Há mais ou menos duas décadas atrás, as marcas produziam apenas quatro coleções por ano, uma para cada estação. Atualmente, a indústria fast fashion, que abastece as grandes lojas varejistas internacionais, produz 52, uma por semana, despejando no planeta cerca de 80 bilhões de peças de vestuário por ano – isso sem esquecer de fatores como o trabalho escravo que muitas marcas submetem os funcionários.
Mas como dar transparência aos processos de produção, no que diz respeito aos aspectos sociais e ambientais? O desabamento de um edifício em Bangladesh, o Rana Plaza, em 2013 serviu como marco de um movimento global sobre o tema.
Um protesto dos jornalistas que faziam a cobertura da tragédia – que se despiram das peças de roupa cujas marcas estavam relacionadas às confecções do Rana Plaza -, foi o início de uma nova era na indústria da moda.
A produção e divulgação de conteúdo sobre marcas, profissionais e iniciativas que têm a produção sustentável, seja de baixa escala, artesanal ou atemporal e que operam com comércio justo, começou a crescer e ganhar visibilidade em todo o mundo.
O número de leitores que buscam se informar sobre o consumo consciente e ético também aumentou devido ao movimento slow fashion, que defende a produção de peças de maior qualidade e feitas artesanalmente de forma que não agrida o meio ambiente.
Os veículos voltados para a moda passam então a investigar e trazer informações relevantes para o público por meio de dados e fatos, apresentando novas marcas desse segmento, novos artistas e estilistas que trabalham com esse viés. Começam a trazer à tona os estragos que a indústria da moda faz ao meio ambiente e os impactos do consumo nas nossas vidas.
O ativismo, seja ele em que segmento for: moda, alimentação ou estilo de vida, ganha cada vez mais adeptos e passa a ser respeitado.
Pode parecer utópico a ideia de que se cada um fizer a sua parte podemos mudar o mundo, mas não é! O jornalismo vem somar nesta luta e nos mostra cada dia mais, opções e oportunidades diferentes na área sustentável. O meio ambiente agradece e os leitores também, por conseguirem perceber e entender que quem dita o que vamos vestir somos nós, quem escolhe somos nós e que o processo de compra pode ser sim, feito de forma ética e com responsabilidade. Estamos no caminho…