10 • maio • 2018

Negócio social de impacto: Startup aposta e financia empreendedores da periferia


Empreender com um propósito é uma realidade para empresários que buscam gerar impacto positivo em uma comunidade e ainda ter lucro. Os negócios de impacto social são uma oportunidade crescente no país ao possibilitar soluções relacionadas a desafios sociais ou ambientais, como a geração de renda e trabalho, considerando a viabilidade econômica com base em estratégias e modelos de negócios. Esse é o caso da Firgun, que atua na área educação financeira e facilita o acesso de microempreendedores a capital produtivo.

A Firgun nasceu em setembro de 2017 com o objetivo de solucionar a dificuldade que microempreendedores enfrentam na hora de acessar crédito para capital de giro. “Queremos facilitar o acesso ao microcrédito para empreendedores de baixa renda. Fazemos isso por meio de uma plataforma de empréstimo coletivo para captar esses valores pela internet”, explica Lemuel Simis Pilnik, 27 anos, que gerencia a Firgun junto com o sócio, Fábio Takara, 29 anos. Os empresários têm ensino superior completo, sendo que Lemuel possui pós-graduação e Fábio está cursando um MBA.

Fábio e Lemuel retratam bem o perfil dos empreendedores dos chamados negócios de impacto socioambiental. De acordo com a pesquisa “Negócios de Impacto Social e Ambiental”, realizada pelo Sebrae, 39,5% dos empreendedores têm graduação mais elevada do que nível superior completo. Quase 55% trabalham sozinhos, 17,2% possuem de dois a cinco funcionários e 15,6% têm apenas um colaborador.

As áreas que atraem mais negócios de impacto social, conforme a pesquisa do Sebrae, são educação (37,1%), seguida por treinamento – acesso a trabalho e renda (25,8%), cultura (22,6%), economia criativa e artesanato (19,4%). Segmentos inovadores como cidades inteligentes (11,3%) e economia verde (8,1%) também se destacam entre aqueles com maior predominância no Brasil.

A pesquisa confirma a multiplicidade de segmentos com negócios de impacto socioambiental. “São negócios inovadores, que atuam de forma transversal em todos os setores produtivos e nas cadeias de valor”, observa a diretora técnica do Sebrae, Heloisa Menezes. “Eles são liderados por empreendedores empenhados em gerar trabalho e renda, impacto positivo principalmente em comunidades de baixa renda, transformando realidades e contribuindo para o desenvolvimento local”, destaca.

A pesquisa constatou ainda que 64% dos empresários entrevistados abriram o negócio de impacto com foco na inclusão de pessoas com menor renda. “Ao facilitar o microcrédito, democratizamos o investimento social. Quem tem recurso para realizar uma transformação por meio de doação pode apoiar o empreendedor de baixa renda e contribuir para geração de emprego e movimentar a economia por meio da ação”, ressalta Lemuel.

Na Firgun, o empreendedor em busca de microcrédito passa por uma triagem. Após ser aprovado, é delimitado o valor da campanha e em quantas vezes o empreendedor vai pagar o financiamento. Assim, a campanha é criada e as pessoas interessadas podem fazer doações com valores a partir de R$ 25. Todo o valor doado é pago pelo próprio empreendedor e, quando os investidores recebem o dinheiro de volta, podem optar por apoiar um outro projeto – multiplicando o impacto social por meio do seu recurso.

Empreendedores de baixa renda beneficiados pela iniciativa

Entre os projetos apoiados pela Firgun se destaca Boutique de Krioula (BK) – empresa de moda afro, brincos e turbantes de Michelle de Souza Alves Fernandes, 34 anos. Moradora do Capão Redondo, periferia da zona sul de São Paulo, Michele se espelhou em sua mãe ao empreender. Sua vida profissional teve início trabalhando como assalariada em call centers e em cargos administrativos. Mas, Michele achava esse tipo de trabalho muito burocrático e por vezes, racista. E como negra Michelle não se via representada no mercado da moda e da estética.

Seu desejo era fazer algo para a mulher negra e africana. Para abrir seu negócio investiu R$150 que eram suas economias e começou o que mais tarde seria a Boutique de Krioula. Era setembro de 2012. Michele comprou os primeiros tecidos e criou um canal no YouTube para ensinar sobre turbantes, produto que é carro chefe das vendas até hoje. Se inspirou nos EUA, começou a fazer brincos também e foi um sucesso. Os brincos acabavam rápido. Seu marido, grafiteiro, faz os desenhos, ela ajuda na produção e faz as vendas.

Michelle de Souza Alves Fernandes criadora da Boutique de Krioula – Foto: Reprodução Facebook Boutique de Krioula

Procurando melhorar a renda, Michelle e seu marido começaram a frequentar e ser convidados para workshops, feiras e eventos sobre cultura negra e turbantes onde faziam a maioria das vendas. No entanto, em 2015 chegou a concorrência, produtos muito baratos vinham da China e isso começou a dificultar seu rendimento, foi daí que veio a ideia de criar uma loja virtual para vender seus produtos pela internet. Já fez vendas internacionais para França, Portugal e Angola.

O trabalho de Michele contribui para o aumento da representatividade negra no mercado estético. Para expandir o negócio e desenvolver novos produtos, a empreendedora entrou com uma campanha de financiamento na Firgun para emprestar R$ 4100. A campanha encerrada em 20 de dezembro de 2017 garantiu a quantia de R$ 4300 para o investimento da Boutique de Krioula.

Outros dois projetos que tiveram suas expectativas atendidas foram:  Clube da Preta – clube de assinatura de moda preta e acessórios. Bruno Brigida é o afroempreendedor à frente do projeto no qual o cliente que compra o seu serviço paga um valor fixo por mês e recebe em casa produtos de empreendedores afro e da periferia. O valor emprestado para investimento arrecadado foi de R$ 3500. E também do Capão Redondo, a Aba Pai Confecções, empresa de Maria da Consolação Pimentel – empreendedora desde os 16 anos na área de corte e costura – também conseguiu financiamento. O valor foi de R$ 4 mil. Fornecedora de grifes locais e empresas, Maria da Consolação trabalha também atendendo a encomendas. Com o aumento da demanda e o desafio de reformar e ampliar o espaço físico de sua confecção, a empreendedora procurou a startup e em agosto de 2017 fez o financiamento aprovado em dez parcelas.




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