É com os olhos atentos ao dispositivo móvel que ela escolhe o que quer vestir. Decide a cor, textura, modelagem, e por fim, manda imprimir. Em alguns minutos está pronta para o seu compromisso. E sai com um vestido incrível e personalizado, todinho seu. Não, isso não é a descrição de uma cena de filme de ficção científica. É sim o resultado da 4ª Revolução Industrial. E não pense que se trata de uma realidade num futuro distante não. Até porque, em alguns segmentos, a impressão 3D, só para citar um exemplo, em outros países desenvolvidos e até aqui no Brasil, já é uma realidade palpável. E não venha dizer que isso é muito Black Mirror!
Flávio Bruno, pesquisador autor do livro “A quarta revolução industrial do setor têxtil e de confecção: A visão de futuro para 2030” é quem afirma: “A 4ª Revolução Industrial vai acontecer porque ela está aí”, referindo-se principalmente ao ramo da moda. “A gente exige que a nossa roupa seja feita de tecidos, seja de fios e fibras por uma série de características de adequação de formas, coisa que os tecidos têm naturalmente porque são formados por fibras. Mas posso ter a mesma possibilidade sem ter fibras e fios”, diz.
O pesquisador cita o vestido usado pela bailarina norte-americana Amy Purdy que encantou o mundo com sua apresentação durante a abertura dos Jogos Paralímpicos, em setembro de 2016, na cidade do Rio de Janeiro. O vestido usado por Amy é uma criação da estilista israelense Danit Peleg. Exatamente dois anos antes, em setembro de 2014, Danit começou sua primeira coleção impressa em 3D, trabalho de conclusão da pós-graduação de Design de Moda, na Shenkar College of Engineering and Design.
Flávio Bruno conta que a ideia de Danit chamou a atenção do mundo da moda, no entanto, a roupa não é impressa inteira e de uma vez só, detalhe que precisa ser resolvido para conquistar seu espaço de vez. “Essa estrutura é bastante grande. Mas de qualquer maneira, as impressoras 3D de hoje imprimem órgãos, olheiras, moléculas, o controle tem nível molecular. As fábricas de automóveis imprimem peças de motor. Mas quando essa estrutura for menor será possível ir a qualquer lugar com essa inteligência. E para que tudo isso aconteça falta muito pouco”, explica.
Os séculos 18 e 19 foram marcados pelas duas primeiras revoluções industriais. Já na primeira delas, no final do século 18, início do 19, um dos primeiros ramos industriais a usufruir a nova tecnologia da máquina a vapor foi a produção têxtil, que antes da revolução era desenvolvida de forma artesanal. A 3ª Revolução Industrial aconteceu em meados do século 20. Era a vez da tecnologia da informação e análise de dados mudar radicalmente a indústria, o que depois inclusive impulsionou o crescimento do sistema fast fashion.
Em seu livro “A quarta revolução industrial do setor têxtil e de confecção: A visão de futuro para 2030”, fruto de pesquisas desenvolvidas durante o tempo em que fez parte da equipe do Senai Cetiqt, em conjunto com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o pesquisador defende que em um futuro próximo essa indústria deve intensificar a aplicação de ciência e da tecnologia em todas as cadeias de valor. E em menos de 20 anos, a Indústria 4.0 influenciará o surgimento de uma nova estrutura em níveis locais e regionais.
“Tudo será muito virtualizado. Com o exemplo da impressora 3D, que posso criar na Alemanha, elaborar em Pernambuco, e tudo ao mesmo tempo. Mandar um desenho pra lá e pra cá. Já estamos acostumados a lidar com isso e cada vez mais com o mundo virtual. Imagina o custo que isso representa em todas as etapas. O desperdício que ao desenvolver um produto estará sendo evitado. Quando vamos a um grande varejista é aquele espaço enorme, quanto custa uma loja para o grande varejista, e tudo aquilo é um estoque, ao vivo e em cores, parado até que alguém compre. E muitas vezes não compram e então são dados descontos. E é por isso que o preço é alto, porque o resto das coisas são vendidas por preços mais baixos. São essas lógicas que com essas tecnologias fica possível eliminar.”
A virtualização e descentralização do processo de produção e de compra e venda segundo Flávio Bruno deve fazer desaparecer setores que o cliente não percebe, mas que paga por eles. “Descobri que essas novas tecnologias, o armazenamento na nuvem, os novos materiais e tecnologias de impressão 3D e 4D atendem a componentes de princípio. Mas, restava saber se tais tecnologias estavam sendo usadas no setor têxtil”, explica.
E o que Flávio Bruno afirma ter encontrado são tecnologias que ressignificam parte da produção, as mini fábricas ativadas pelo consumidor, a coloração e confecção automática e robótica. Tecnologias que considera de manufatura social ao colocar o consumidor como criador e usuário dentro do sistema de produção existentes. Como mini fábricas – sistema modular base que permite desmontá-la e levá-la para onde quer que seja – reduzindo o impacto ambiental e social; a produção ativada pelo consumidor – após o cliente escolher o modelo, padronagem e modelagem, começa a produção da peça; processos de individualização e personalização – adequando o molde ao cliente; confecção automática – ao autorizar a produção, todos os problemas de ordem social e ambiental são reduzidos de forma extremamente considerável. Sua conclusão é que todas essas ferramentas abrem caminho para o futuro 4.0 da moda. Agora é esperar para saber o que as próximas décadas nos reservam!
PDF do livro disponível: “A quarta revolução industrial do setor têxtil e de confecção: A visão de futuro para 2030”, Estação das Letras e Cores Editora – BRUNO, Flávio da Silveira. E pode ser baixado gratuitamente.
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