01 • outubro • 2018

Emoções mal resolvidas podem realmente adoecer uma pessoa?


Por que adoecemos? O que leva o próprio corpo a gerar células malignas, como no caso do câncer, ou o pâncreas a não produzir insulina, como no diabetes? Se, quanto ao câncer, o mecanismo ainda não foi totalmente explicado, no caso da diabetes é fato que o consumo excessivo de açúcar, o sedentarismo e a obesidade podem desencadear a doença em qualquer pessoa. O mesmo acontece em indivíduos que apresentam picos de pressão: a hipertensão pode ser uma condição provocada por pressões externas, como sobrecarga de problemas e estresse. Ter dores no peito e sintomas de problemas cardíacos podem ser sinal de um ataque de ansiedade e não que o indivíduo esteja infartando. Existe até doença com denominação quase romântica, como a síndrome do coração partido, relatada pela primeira vez por médicos japoneses, na década de 1990, cujos sintomas assemelham-se ao de um ataque cardíaco. Interessante observar que a sociedade japonesa está entre as que apresentam alto índice de suicídio. Coincidência? Com toda certeza, não.

Embora ainda não ter sido cientificamente comprovado, estudos levantam a possibilidade de haver relação entre características de personalidade e o desenvolvimento de doenças físicas. Apesar de todas as indicações da influência das emoções no aparecimento de enfermidades orgânicas, ainda não há uma perfeita compreensão do mecanismo que relacione o funcionamento de causa e efeito entre mente e corpo. É preciso levar em conta que os seres humanos não se encaixam em padrões nem respondem às influências do meio ambiente de modo semelhante. O sofrimento não é vivenciado da mesma forma e com igual intensidade, pois outros agentes devem ser levados em conta, como temperamento e grau de resiliência, além de apoio familiar e social. Isso significa que, como preconiza a terapia cognitiva, não é a situação em si mesma que determina como o indivíduo vai pensá-la e vivenciá-la, sentindo e reagindo aos eventos de acordo principalmente por sua forma de perceber a si mesmo, ao mundo e às outras pessoas. Partindo desse princípio, as emoções determinam a saúde psicológica e poderão interferir na saúde física.

Foto: Pexels

Essas observações têm por objetivo refletir sobre a relação entre as emoções e o surgimento do câncer, levando-se em conta que estudos já demonstraram que uma exposição prolongada ao estresse, por exemplo, pode ocasionar a redução das defesas do corpo, tornando-o vulnerável a infecções e tumores, entre outras afecções. Se a baixa imunidade é resultado das escolhas do indivíduo, como alimentação inadequada, abuso de tabaco e álcool, inatividade física, esses maus hábitos podem ter raízes emocionais, como depressão e ansiedade. Então, o que é aparente não se trata da causa, mas da consequência. Se a maioria das doenças tem caráter multifatorial, qual seja, tanto genético quanto ambiental, biológico e comportamental, é preciso compreender o papel dos fatores psicológicos em sua gênese, e, a partir disso, priorizar o trabalho preventivo, o que evita o surgimento da patologia, em lugar do curativo, aquele de que se lança mão depois que a doença se instala.

Tratando especificamente do câncer, lembremos que ele sempre foi uma síndrome ligada, no imaginário popular, à depressão. Talvez por ser tão devastador em seus sintomas, o câncer remete à ideia de profunda tristeza e desesperança, que são alguns dos sintomas da depressão. As indicações médicas são cuidar da alimentação, praticar atividade física, enfrentar o tabagismo, evitar o abuso de álcool, desenvolver relacionamentos saudáveis e uma rede de apoio social, com isso fugindo à solidão, fazer exames periódicos, ir ao médico quando necessário, mas é preciso enfatizar também que se deve ouvir as emoções, prestar atenção às necessidades da alma. Engolir sapos, viver com o coração apertado, se acostumar com o medo, remoer frustrações e ressentimentos, sucumbir à raiva, desistir dos sonhos, aceitando menos, nunca se ver como prioridade são quase vícios, tão nocivos quanto o descuido com a alimentação, o sedentarismo, os excessos de todos os tipos e o estresse. E se trocar hábitos nocivos por outros benéficos é importante, tratar a saúde psicológica é fundamental.

É preciso adquirir não apenas ferramentas psicológicas para se fortalecer frente às circunstâncias difíceis, mas também cultivar sentimentos e pensamentos positivos, além de aprender comportamentos adaptativos. Fundamental para ter uma vida de qualidade é fortalecer a autoestima, que, além de contribuir para os cuidados com a aparência e a apresentação, alimenta a autoconfiança, tão necessária para alcançar os objetivos, quaisquer que eles sejam. Aprender a ser assertivo, o que possibilita estabelecer relações mais honestas e de igual para igual, nas quais todos sejam respeitados em seus direitos. Ter um tempo para relaxar, afastar-se um pouco das tensões, divertir-se, ou mesmo apenas parar e observar, respirar e meditar, ficar em silêncio. Afinal, enxergar o mundo com olhos mais tolerantes e coração mais leve pode significar a diferença entre saúde e doença.

+ Maria Cristina Ramos Britto é psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental e autora do blog Saúde Mente e Corpo.




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