05 • junho • 2018

Consumo consciente e veganismo


Quem me conhece sabe que sou uma pessoa em constante busca por conhecimento. Ultimamente tenho me questionado muito sobre o veganismo. E, é claro, que acabo levando meus questionamentos também para a minha marca: a Rabble. O intuito desse texto não é trazer nenhuma conclusão ou esclarecimento relacionado ao tema. Até porque eu mesma não o tenho. Tudo o que tenho são dúvidas e uma enorme necessidade de compartilhar minha angústia com vocês.

Falando da Rabble, logo que a lancei, sempre soube que trabalharia com materiais que seriam descartados, tanto por nós quanto pela indústria, como roupas velhas ou retalhos que não servem mais para as fábricas por algum motivo. Essa é a minha visão de sustentabilidade.

Eu acredito que poderíamos parar de produzir muitas coisas por já termos produtos produzidos em excesso. Inclusive para suprir as necessidades de umas três gerações. Se apenas parássemos de descartá-los e fizéssemos o uso correto das coisas fazendo com que durassem mais. E aproveitando o que já existe para transformar em produtos novos estaríamos fazendo um bem danado pro planeta.

De fato, um conjunto de atitudes colaboram pra uma vida livre de excessos e um planeta mais sustentável, como consumir menos. E, consumir melhor, cuidar melhor, fazer durar, customizar, reciclar, enfim. Mas conforme você vai pesquisando e se informando sobre a produção de diversas coisas, você questiona outros assuntos, como, por exemplo, quantos litros de água são gastos na produção de calçado de couro?

Foto: Pixabay

O couro ecológico pode ser considerado sustentável apenas por possuir métodos menos nocivos no seu curtimento?

E o couro sintético é uma boa escolha apenas por ser livre de crueldade animal, mesmo sendo produzido à base de plástico, como poliéster, poliuretano, etc?

Sua produção é igualmente poluente, já que se utiliza da extração de petróleo, além de possuir uma relação com o tempo inferior a que o couro possui. Já que o material sintético descasca, enquanto o couro se mantem, mesmo quando velho.

Sabemos que o veganismo é uma filosofia de vida e um posicionamento político que cresce no mundo todo. E a demanda por produtos veganos aumenta, mas ela não está diretamente relacionada à sustentabilidade.

Há veganos que consomem o shampoo natural e livre de crueldade animal, da produtora local, que além de não possuir nenhum ingrediente animal, produz somente com insumos orgânicos e toda sua produção é artesanal.

E há o vegano que consome o shampoo comprado no hipermercado, de uma marca internacional, que trabalha com outros insumos nocivos à natureza. E que mesmo produzindo em grande escala, testa seus produtos em pele sintética, e que inclui o veganismo em seu plano de marketing.

Sim. Considero complicado ser “100% sustentável”. Eu mesma, apesar de tentar ser uma pessoa mais consciente, ainda consumo muitos produtos da grande indústria, pois não me adaptei a todos os produtos naturais que encontrei. Condicionador de cabelo, não tem nenhum natural que me satisfaça.

Às vezes também tento usar só molhos caseiros, fazendo meu próprio ketchup, mostarda, mas, às vezes, da preguiça e compro os industriais mesmo, assim como diversos outros produtos que ainda consumo da grande indústria.

Acho realmente muito difícil alguém se livrar totalmente.

Quem conseguir, me conta o segredo, por favor.

Esse texto também não é pra ditar o que é certo ou errado, pois cada pessoa encontra seu próprio equilíbrio. E cada pessoa tem seu tempo pra tudo.

Estou reforçando isso, pois esses textos sobre sustentabilidade ou consumo consciente, às vezes, mais parecem uma competição sobre quem se mostra mais sustentável, do que qualquer outra coisa, e não é essa minha intenção. Enfim, devido os diversos questionamentos, são diversas as perguntas em minha mente.

Há diversas marcas veganas no mercado, mas será que consumir delas basta? Não sei se conseguirei algum dia ser vegana, porque ainda acredito que a redução seja o caminho, mas independente do veganismo, vou buscar sempre consumir de quem eu puder ter uma relação próxima. E trabalhar com outras questões relacionadas à ecologia e sustentabilidade.

Acredito que produzir produtos veganos de grande escala, resolve sim a questão do sofrimentos dos animais, mas de forma alguma resolve a questão de como devemos repensar nossa relação com a terra.

Com relação à minha marca, cheguei à conclusão de que quero torná-la vegana. Mas, como disse, eu mesma ainda não sou. E talvez nunca serei. E fico pensando: será que soaria hipócrita da minha parte, para algumas pessoas, comer carne, mesmo que esporadicamente, e tirá-la da minha marca?

Foto: Pixabay

Pra mim, mesmo que eu ainda não seja vegana, nem vegetariana, não vejo sentido em utilizar o couro para roupas, calçados, etc. Nem sentido na exploração animal para qualquer tipo de divertimento humano. E acredito que o caminho que busco, que são sapatos de qualidade, livres de  crueldade animal, seja permanecer com a produção dos sapatos que já possuo, trabalhando com materiais como malha, jeans, etc.. Retirando apenas os retalhos de couro, que na verdade, são os de menor saída na marca.

Acho que dessa forma, tirando o couro da minha marca, e do meu consumo de moda, e diminuindo o consumo na minha alimentação, vou contribuir para a diminuição do impacto da agropecuária em nosso planeta.

E vocês, já pararam pra pensar que o veganismo pode ser uma das atitudes que deveríamos tomar para sermos mais conscientes e ecológicos? Ou acreditam que pela durabilidade, o couro também é uma alternativa pra um consumo consciente?

Faz sentido pra vocês buscar o equilíbrio, sem rótulos? Alguém mais está sofrendo com essa ou outras questões relacionadas ao consumo consciente? Conta pra mim, vamos compartilhar nossos anseios. Preciso saber o que vocês acham também.


Monique Brasil

Monique Brasil

>>> Monique Brasil é graduada em Design Digital pela Universidade Metodista e tem formação pedagógica em Artes pela Faculdade Paulista São José. Sua experiência profissional inclui criação e gestão de marcas. Especialista em branding, por quatro anos transitou entre as áreas de Trade Marketing, em multimarcas de bens de consumo. Mas foi com a moda e, principalmente, com os calçados, que se encontrou profissionalmente. Formada também em Desing de Calçados pelo SENAI, a artesã é proprietária da Rabble, marca de calçados com foco no uso de resíduos. O projeto valoriza o comércio justo e a sustentabilidade. E é seu objetivo conscientizar pessoas sobre produção e consumo. Aqui no Moda Sem Crise, Monique assina a coluna Sapateirar de publicação mensal. Espaço onde compartilha sua jornada como consumidora e empreendedora no mercado brasileiro de moda. Fale com a Monique | E-mail: rabbleshoes@gmail.com



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