09 • março • 2018

As tradicionais alpargatas espanholas


O calçado é um elemento muito antigo do vestuário. Existem pinturas rupestres, onde o sapato já se fazia presente. Ele veio com a necessidade de proteção dos pés, e os primeiros, eram feitos de palha ou madeira. Depois veio a fibra de palmeira, a técnica de curtimento do couro, desenvolvida pelos egípcios. Com o passar do tempo, os calçados também passaram a exercer função social. No próprio Egito, os faraós possuíam calçados adornados com ouro, e diversas outras características surgiram para exercer função social. Haviam cores de calçados, que só eram usadas por pessoas que ocupam determinados cargos políticos. O sapato, assim como a história da indumentária, evoluiu e ganhou diversos modelos, cores e texturas, mas há um em específico, que transcende toda a história, e se faz presente até hoje, nos pés de crianças, homens e mulheres, se mostrando o calçado mais democrático e popular: estou falando das alpargatas, também conhecidas como espadrille.

Apesar de existirem modelos que datam mais de 5.000 anos a. C, as alpargatas como as conhecemos hoje, surgiram por volta de 1300, na região basca, fronteira entre França e Espanha – Occitânia da França e região Catalã na Espanha. O termo Espadrille é originário da França, enquanto o termo Alpargatas é originário da Espanha, porém, o uso de uma planta chamada Esparta, para a produção do traçado do solado, foi iniciado em terras espanholas.

A alpargata já nasceu para ser democrática, pois desde o início eram usadas por infantarias de reis, sacerdotes e camponeses. Eram utilizadas nas tradicionais danças catalãs, onde eles as usavam com as cordas de amarração nos tornozelos.

Durante 400 anos, o uso de alpargatas se restringiu a essa região, mas por volta de 1800 elas começaram a ser exportadas para países da América do Sul e outras regiões do mundo. Diversos adeptos ao modelo colaboraram para que as alpargatas se tornassem cada vez mais popular. Artistas modernistas como Picasso e Salvador Dalí usavam o modelo regularmente. E é aqui que a história de uma das fábricas mais tradicionais da Espanha entra nesse texto.

A “La Manual Alpargatera” uma loja super charmosa, localizada entre as vielas do bairro gótico de Barcelona. Pensa num roteiro fantástico, andar pelas maravilhosas ruelas góticas e medievais, visitar o Museu Picasso (fantástico por sinal) e depois passar numa das alpargaterias mais tradicionais da Espanha. Esse foi meu itinerário no dia que estive na loja – durante viagem recente à Europa. A La Manual Alpargatera, abriu as portas nos anos 1940. E recebia com frequência a visita de Picasso e Dalí. Com certeza, diversos modelos que eles usaram, e que ajudaram a popularizar esse modelo de calçado pelo mundo, vieram da La Alpargateria Manual. Com o tempo, outros artistas viraram clientes da loja, como a atriz Penélope Cruz, a modelo Tyra Banks, e a atriz Julliane Moore, só para citar alguns exemplos.

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Primeira equipe da La Manual Alpargatera em 1940 – Foto: Divulgação

Desfile de alpagartas da La Manual Alpargatera – Foto: Divulgação

Logo que cheguei na loja, fui recebida pela Mar, e expliquei que estava lá especialmente para conhecê-los e saber mais sobre a história da loja e a produção, Mar então, chamou Lúcia, uma funcionária que trabalha na loja há mais de 12 anos, produzindo os modelos manualmente, e pra minha surpresa, fico sabendo que Lúcia é brasileira. Quem diria, uma artesã conterrânea emprestando seu talento a uma das mais tradicionais fábricas de alpargatas da Espanha, quiçá, do mundo!

Lúcia e Mar, me explicaram que a marca, além de possuir o ateliê na própria loja, (meu sonho pra Rabble é ter um ateliê loja ), também possui uma fábrica em outro espaço, onde a produção continua de forma artesanal, valorizando a produção local e mantendo funcionários que trabalham há anos da empresa. O ateliê na loja, é uma forma de manter o cliente final próximo da produção, podendo acompanhar corte de cabedal, pesponto, montagem, tudinho. Geralmente ficam quatro artesãos na produção da loja, e você pode ver ali, a magia acontecer.

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Acompanhada da Lúcia, a brasileira – Foto: Arquivo Pessoal

Joan Carlos, proprietário da marca, não estava lá no dia da minha visita, pois fui sem avisar (risos). Mas depois me enviou e-mails com mais conteúdos sobre a marca, explicando sobre os materiais utilizados e sobre a produção, além de ceder fotos incríveis (que você vê nesta publicação). Joan Carlos, também é responsável por manter a loja exatamente como é desde sua inauguração.  Como vocês podem ver nas fotos, o visual clássico é mantido e eu estou tão apaixonada pelos banquinhos de apoio para os pés usados para que os clientes experimentem os calçados. Gente, a loja é linda!

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Joan Carlos, o proprietário da La Manual Alpargatera – Foto: Divulgação

Mas vamos outra vez às alpargatas. Lá na La Manual Alpargatera elas são feitas com sola de fibra vegetal, que além da juta, podem ser cânhamo e esparto, e os cabedais são de algodão ou linho. Na loja você encontra modelos que variam de 9 Euros (R$ 36) a 60 Euros (R$ 240). E é óbvio que eu não poderia deixar de comprar a minha, que saiu por 17 Euros (R$ 68), mas que pra mim na verdade, não tem preço. É  o tipo de coisa incalculável, inclusive, assim que voltei pro Brasil, lí um texto em um site espanhol, que diz que Salvador Dali, tinha preferência pelo modelo preto com amarração no tornozelo, então acertei na mosca, tenho gosto de artista.

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A loja se mantém exatamente como era antes – Foto: Divulgação

Pra quem se interessar, a La Alpargatera Manual, fica na Calle Avinyó, 7 e funciona da 09 às 13h fechando pra a merecida Siesta. E na parte da tarde e reabre das 16:30 às 20h. Espanhol sabe viver, né?!


Monique Brasil

Monique Brasil

>>> Monique Brasil é graduada em Design Digital pela Universidade Metodista e tem formação pedagógica em Artes pela Faculdade Paulista São José. Sua experiência profissional inclui criação e gestão de marcas. Especialista em branding, por quatro anos transitou entre as áreas de Trade Marketing, em multimarcas de bens de consumo. Mas foi com a moda e, principalmente, com os calçados, que se encontrou profissionalmente. Formada também em Desing de Calçados pelo SENAI, a artesã é proprietária da Rabble, marca de calçados com foco no uso de resíduos. O projeto valoriza o comércio justo e a sustentabilidade. E é seu objetivo conscientizar pessoas sobre produção e consumo. Aqui no Moda Sem Crise, Monique assina a coluna Sapateirar de publicação mensal. Espaço onde compartilha sua jornada como consumidora e empreendedora no mercado brasileiro de moda. Fale com a Monique | E-mail: rabbleshoes@gmail.com



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