04 • setembro • 2017

Instituto Alinha lança etiqueta para peças produzidas em oficinas alinhadas com o trabalho justo


O consumidor de moda que entende e se conecta a marcas que prezam por transparência em seus processos de produção podem a partir de agora contar com uma nova ferramenta de validação da indústria de confecção paulista. Lançada na última quinta-feira (31/08), em São Paulo, a “Etiqueta Alinha – Por Trás da Roupa” surge com a missão de contribuir para uma moda justa. Iniciativa do Instituto Alinha – negócio social focado na melhoria das condições de trabalho e de vida de costureiros e costureiras – a etiqueta é uma estratégia de financiamento do projeto e também um importante passo rumo a um dos principais desafios do instituto: engajar o consumidor que ainda não se deu conta da relevância da questão, sobre a importância da sua real adesão ao movimento que cobra por condições de trabalho dignas de quem e para quem produz roupas.

“Por mais que a gente saiba, por mais que tenhamos ouvido falar sobre casos de trabalho análogo à escravidão, e em nosso manifesto falamos sobre isso, desde que você viu essa notícia, o que realmente mudou em você, na sua forma de consumir? Esse é o nosso questionamento. A gente vê a notícia, se incomoda, mas continua a consumir do mesmo jeito”, lamenta Dari Santos, co-fundadora do Instituto Alinha.

Manifesto: Qual história você quer vestir? - Foto: Marcela Fonseca

Manifesto Instituto Alinha: Qual história você quer vestir? – Foto: Marcela Fonseca

É Dari quem explica que a etiqueta Por Trás da Roupa nasceu de uma inquietação dos consumidores. “Nos perguntavam, vocês trabalham para a regularização de oficinas, mas quais são as marcas que contratam as oficinas alinhadas, de quais marcas posso comprar? Não conseguimos dizer quando uma marca faz 100% da sua coleção dentro de uma oficina alinhada. Não temos a garantia certificadora de marcas. Mas a gente consegue dizer quais as peças passaram pelas mãos dos costureiros alinhados. E essa etiqueta nasceu pra isso. Para ser identificação de peças feitas com trabalho justo.”

A etiqueta será colocada à venda e poderá ser adquirida pelas marcas cadastradas na plataforma. “E no momento em que a marca compra essa etiqueta, ela delega a oficina alinhada que vai costurar que vai costurar a coleção. Mandamos a etiqueta direto para a oficina e temos a garantia de que da mão desses costureiros ela só sai pregada na peça”, afirma.

Etiquetas devem chegar ao mercado entre os meses de setembro e outubro – Fotos: Instituto Alinha/Divulgação

O instituto há três anos atua em São Paulo auxiliando donos de oficinas de costura a se regularizarem e alinharem seus negócios. O trabalho consiste em apoiar empreendedores interessados em transformar suas relações e ambiente de trabalho. O atendimento é gratuito e envolve capacitação dos donos da oficina em cursos de empreendedorismo; formalização administrativa da oficina; reestruturação física e elétrica do ambiente; saúde e segurança do trabalho; organização do ambiente; além de promover relações de trabalho e combate ao trabalho análogo ao escravo. Após alinhadas, as oficinas são incluídas na plataforma e são conectadas aos estilistas e marcas interessadas em uma produção justa. O instituto conta hoje com 73 oficinas inscritas e devidamente alinhadas com a proposta do projeto.

Até aqui a plataforma prestava atendimento gratuito para as marcas. O novo modelo de negócio inclui cobrar pela conexão. “Captamos recursos por muito tempo. E agora seguimos com a venda das etiquetas e a partir de agora a plataforma deixa de ser gratuita para as marcas. Quem procura uma oficina e quiser se conectar por meio da plataforma terá que escolher um plano de acesso e escolher uma forma de ajudar e apoiar o instituto. Porque era financeiramente impossível continuar com esse trabalho e pensar em larga escala sem passar essa responsabilidade para as marcas”, explica Dari.

A procura das marcas pela plataforma, segundo a empreendedora social tem sido grande. O mesmo tem acontecido com empreendedores interessados em regularizar o negócio – há inclusive fila de espera. O objetivo é ampliar o alcance de atendimento em ambas as pontas. “Tem marcas e oficinas dispostas a investir e a gente está galgando mais espaço. O crescimento [da moda justa] vai ser igual acontece com os alimentos orgânicos que ninguém se preocupava e hoje está aí, ainda não é todo mundo que se preocupa, mas é uma fatia bem maior do que era. Creio que vá acontecer a mesma coisa com a moda justa”, completa.

 

Flávia Aranha está entre as marcas conectadas às oficinas apoiadas pelo Instituto Alinha

Desde o início das atividades do Instituto Alinha, mais de 200 marcas já contaram com os trabalhos dos costureiros e costureiras que tiveram suas oficinas alinhadas. Parceira do projeto, a estilista Flávia Aranha tem sua marca cadastrada na plataforma e parte para o segundo ‘match’ desta relação. “Sempre que uma marca encontra uma oficina parceira e se conecta à ela a gente brinca que ‘deu match’’, explica Dari Santos, co-fundadora do negócio social.

Instituto Alinha conecta estilistas e marcas à oficinas alinhadas com trabalho justo - Foto: Marcela Fonseca

Instituto Alinha conecta estilistas e marcas a oficinas alinhadas com trabalho justo – Foto: Marcela Fonseca

Ao Moda Sem Crise, Flávia contou durante a festa de lançamento da etiqueta “Por Trás da Roupa” que conheceu o instituto ao aceitar um convite de mentoria de um curso de capacitação do Aliança Empreendedora – projeto parceiro do Alinha. E ao se deparar com os responsáveis pela primeira oficina alinhada pelo instituto, se interessou pelo projeto.

“Recebi um convite para fazer mentoria junto com a Aliança Empreendedora. Eram vários mentores e várias oficinas passavam por essa capacitação. Uma das etapas do processo era em parceria com o Alinha. Conheci o Beto e a Dudi que tinham tido a oficina alinhada. Esse foi meu primeiro contato com o Alinha. Essa mentoria era um processo pessoal meu, era independente da empresa, era um trabalho voluntário e pessoal. E, realmente, nós nos conectamos de imediato”, contou referindo-se ao casal de costureiros, ele boliviano e ela brasileira.

“Quando cheguei eles tinham passado pelo processo de alinhamento. A oficina estava impecável. Estava linda. Então, a primeira pergunta que fiz pra eles foi: o que vocês querem? E o Beto surpreendeu ao responder: quero trabalhar como brasileiro. Isso pra mim foi muito forte. Então ele me explicou que o que queria era trabalhar como brasileiro, com carteira assinada, com expediente até às 18h. Ele disse que queria passear com a filha no domingo. Ter uma vida normal. E a partir dessa questão dele a gente foi trabalhando pelo tempo. Quanto custa seu tempo? Qual o seu custo material, tangível, de estrutura, mas quanto vale seu tempo?. Acho que esse tipo de relação foi indo, indo e clareando. Como você chega no preço de uma peça? Quantos minutos demora? Vale a pena fazer duas mil peças por centavos? E isso foi ficando claro e foi incrível. Eles foram se empoderando a partir do momento em que conseguiram entender os próprios processos. Foi muito profundo.”

Com o fim do curso e da mentoria, a oficina alinhada passou a fazer parte da rede de empreendedores que atendem a marca Flávia Aranha. E recentemente, Flávia que conheceu todas os profissionais apoiados pela plataforma integrou uma nova oficina a sua rede de colaboradores. “A Dari me convidou para ampliar os trabalhos e fomos conhecer todas as oficinas. E hoje contamos também com os trabalhos do Moisés. E tudo isso é incrível, inclusive para marcas que são pequenas, imagina chegar em uma oficina com o trabalho regularizado e justo. É muito maravilhoso. Estendemos a parceria e estamos felizes com mais esse match”, finalizou.

Precisa falar com o Alinha? Escreva para o e-mail: contato@alinha.me

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