27 • setembro • 2017

CINM discute os rumos da moda brasileira


CINM – Começou nesta terça-feira, 26, a 5ª edição do Congresso Internacional de Negócios de Moda. O evento que é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Moda (IBModa) acontece pela primeira vez em São Paulo e  em parceria com os cursos de Têxtil e Moda e de Marketing da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP), no campus da Zona Leste – local que abriga o evento nos dias 26, 27 e 28 de setembro. A primeira manhã de palestras colocou em debate o tema: “GPS – Onde Estamos? Para onde Vamos?”.

Mas antes, com o tema “O renascimento da indústria Têxtil e de Confecções de Portugal”, Paulo Vaz, diretor geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), contou como seu país se refez das chamas em meio à crise econômica que atingiu a Europa. Portugal em 2014 colocou em prática um plano estratégico estabelecido para os países europeus para o setor têxtil com metas a serem alcançadas até 2020. Em setembro do ano passado Portugal já tinha batido todas essas metas. A mediação ficou por conta de André Robic, diretor do IBModa.

“O segmento passou a ser pensado e encarado de outra forma estratégica. Não de forma aleatória, mas os parceiros, todas de uma maneira alinhada, isso ajudou o fato da ATP que representa essa fileira. Teve um discurso coerente e consistente que contou com políticas públicas e privadas. E com recursos à disposição para serem investidos neste setor foi possível ter uma trajetória positiva e virtuosa. Passamos de ‘patinho feio’ a ‘cisne’, somos um exemplo para toda a Europa. Os objetivos que tínhamos traçado foram todos alcançados. Superamos volumes de negócios, ultrapassamos barreiras e, portanto, com todos os objetivos alcançados olhamos para o futuro e nos obrigamos a fazer uma revisão do nosso plano estratégico que agora aponta para 2030”, explicou Vaz.

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O português vê as indústrias têxtil e de confecções brasileira com bons olhos. “A indústria brasileira tem dimensões que não se compra com a portuguesa. O Brasil é peso pesado, tem escala, dimensão e peso. Coisa que Portugal teve que buscar seu espaço de nicho. Por outro lado significa que a indústria brasileira pode tornar-se trendsetter, um país líder que poderá influenciar todo o continente e tem um conjunto de elementos que todo mundo admira, todo mundo quer imitar. Tem a ver com o fato do mundo olhar e querer imitar o estilo de vida e o Brasil tem um conjunto que pode fazer arrastar toda a sua indústria. Estou otimista por isso. E o alinhamento pelos setores públicos e privados tem que ser alcançado”, completou.

Em seguida o evento abriu a programação para a primeira mesa que tratou do assunto “Onde estamos, para onde vamos?” e que reuniu Marcelo Prado, sócio diretor do Inteligência de Mercado (IEMI), Flávio da Silveira Bruno, coordenador de engenharia de produção do Departamento de Engenharia Industrial da UERJ, autor do livro a 4ª Revolução do setor têxtil e confecção, e Rafael Cervone, presidente emérito da Abit e do Sindtêxtil/SP.

Prado mencionou dados do mercado brasileiro de moda levando em consideração desempenho, desafios e tendências. “Moda é acima de tudo uma indústria é um grande negócio e é preciso estar preparado para este desafio. Voltamos a crescer este ano e essa é uma grande notícia. Em 2016 começamos abaixo e não conseguimos nem mesmo comparar o setor com o desempenho de 2015 e fomos descendo. Em 2017 começamos acima, demos uma recuada e temos então um ano melhor e vamos ficar acima de 2016, ano que estivemos no fundo do poço. A recuperação de Portugal foi planejada. E esse é o nosso grande desafio. Precisamos retomar para nos desenvolvermos e precisamos de estratégias.”

Já Flávio Bruno colocou em discussão a indústria 4.o. O palestrantes resumiu como instantaneidade e compartilhamento em tempo real têm transformado as relações de consumo. Um dos exemplos apontados pelo pesquisador são as minifábricas que otimizam tempo e espaço. “É a mesma lógica de repetir, mas evitando perdas. Otimizando sistemas de produção, tecnologias existentes colocadas em prática. A sustentabilidade para que as coisas venham para dentro dos ambientes urbanos. Tecnologias existem há muito tempo. Essa indústria [têxtil] está entrando como todas as outras nesta revolução. Revolução que deve acabar com essa separação de indústria de alta ou baixa competência”, explicou.

A programação contou ainda com um segundo painel. E Alexandre Brett, diretor da Replay Jeans Brasil, Marina Kadooka, gerente de Marketing da Levi’s, Adriana Papavero, diretora Lectra América do Sul e Carolina Delgado, antropóloga e pesquisadora, coordenadora do Puxadinho Lab participaram da mesa “E o que as pessoas e as empresas estão fazendo?”

Para tratar do assunto sobre o que as pessoas e as empresas estão fazendo, os palestrantes enfatizaram os novos hábitos do consumidor e o quanto isso tem sido relevante na criação e produção das marcas das quais representam. Adriana apontou quatro mega-tendências para a indústria, são soluções que vão desde software passando por plataformas que conectam pessoas chegando a automatização. A especialista citou os millennials como principal fator desta transformação. “Essa população soma 2 bilhões de pessoas em todo o mundo e representam 86% da população de países emergentes. Os millennials são responsáveis pelas vendas no varejo. É a maior geração trabalhadora da história. E a maneira como consomem tem impactado a indústria. Eles querem bens customizáveis, querem se sentir únicos”, disse.

Para Adriana, por mais expressiva que seja essa geração conectada, digitalizada e consumidora, as lojas físicas não devem perdem força. “As lojas físicas não vão acabar. Os millennials buscam experiências completas. Ele gosta do universo digital, mas quer experimentar, ele vai às lojas em grupos, compartilha a experiência.

Marina Kadooka também trouxe à tona o consumidor que mais do que nunca entende que consumir é também um ato político. A gerente de marketing destacou a importância das empresas estarem atentas à transparência de seus processos de gestão, criação e produção. “A moda consegue incorporar questões da política em seus produtos. Se você compra um produto muito barato, tem alguém sangrando. Estima-se que 66% dos consumidores globais estão mais dispostos a pagar por produtos e serviços de responsabilidade social. E vale lembrar que sustentabilidade não é só pensar verde.”

E apontou algumas tendências, como, por exemplo os produtos mais artesanais, com autenticidade, o bem-estar, o retrô. “O luxo tem que se reinventar. Hoje em dia a gente fala muito de acesso. Hoje em dia o luxo não é mais status, mas sim o que você faz pela sua comunidade. Menos é mais”, completou.

E a antropóloga Carolina Delgado encerrou a mesa com sua fala sobre a importância da Antropologia no campo da moda e nas relações de consumo.

Carolina Delgado - Foto: Elaine Paiva

Carolina Delgado – Foto: Elaine Paiva

“Fiz um recorte de moda e pesquisa sobre a invisibilidade dos negros na produção de imagens estéticas no Brasil. E fiquei apavorada. Era 2004, cobri uma série de eventos da SPFW, fiz curso de jornalismo e produção de moda e fiquei apavorada. Terminei o mestrado e disse, não volto mais. Essa foi a coisa mais preconceituosa que já vi na vida. Venho de uma pulsação louca que é ignorada por um mercado que sufoca vozes”, afirmou a pesquisadora que apontou as transformações das classes sociais brasileiras. “Temos um recorte de tempo e espaço que a gente nunca viu antes. Por isso a Antropologia chegou chegando. Traçar espaços diferentes no Brasil por ter essa dimensão é um grande laboratório para o mundo. Estamos em São Paulo e não temos a menor ideia do que acontece no Acre. Tem a conexão de tempo e de espaço dentro do nosso território, quando a Antropologia olha e entende como acrescentar narrativas, como parte dessa conversa desenha pontes possíveis para que a partir daí tenhamos um processo que o Flávio [Bruno] disse e que fiquei encantada, mas que acontece longe da base. A base tem coisas incríveis, mas que não estão se conectando. Tem um meio vazio e descrente achando que não está acontecendo nada, que nada existe. E essa é a grande provocação da Antropologia para a moda. Vamos criar diálogos, juntar a indústria 4.0 com as cooperativas da favela. O Brasil e uma enorme rocinha. Se a gente quer vender e recuperar, vai ter que alinhar a isso e entender o território nacional. Provoquem. Conversem. Sempre vai ser mais legal no coletivo. É sempre melhor quando a gente cresce junto e isso é independente da base. Só vamos crescer no coletivo. Agreguem. Conversem. Construam”, finalizou.

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